Resumo |
Os primeiros casos de HIV/AIDS aparecem primeiramente na África e nos EUA, no final da década de 1970, mas foram classificadas somente em 1982. No Brasil o primeiro caso ocorre em 1980 e também só é classificado em 1982. A disseminação inicial da epidemia no país se deu no eixo Rio de Janeiro – São Paulo. Depois, a epidemia segue para as metrópoles regionais e, então, para municípios de pequeno porte. O final da década de 1980 e a década de 1990 correspondem a um período de mudanças nas categorias de exposição ao HIV (os chamados “grupos de risco”) e de sua disseminação no território nacional. Diante disso, este projeto busca responder a três questões fundamentais com relação à chamada “interiorização da epidemia de HIV”. Tais questões são: primeiro, sua origem, isto é, quando aparece pela primeira vez na literatura especializada; em segundo lugar, sua persistência ao longo dos últimos anos e, por último, qual o sentido que a ela dão os especialistas. Em termos mais gerais, o trabalho busca entender tanto o comportamento da epidemia de HIV quanto o modo de trabalho dos epidemiólogos e outros especialistas ao analisar as mudanças no perfil que nela tem acontecido desde que foram registrados os primeiros casos no Brasil. O trabalho consiste numa revisão exaustiva da literatura especializada dos últimos 20 anos visando entender de que modo os especialistas mudaram suas concepções sobre a epidemia e de que modo produzem seu conhecimento dentro desta área específica. Foram selecionados 25 textos para a revisão da literatura. Neles pudemos encontrar diversos dados a respeito da disseminação e comportamento da epidemia. A primeira vez que aparece o conceito interiorização é em 1995, o fenômeno relaciona-se ao padrão sociológico de formação da sociedade brasileira ao longo do litoral. Esse padrão resulta na forma como a epidemia se disseminou em direção a cidades de médio porte, inicialmente, e depois para cidades de pequeno porte. As transformações ocorridas modificaram as categorias de exposição ao HIV, surgindo algumas categorias que ajudam a entender o comportamento da epidemia ao longo dos anos. Elas são: a “feminização”, a “heterossexualização”, a “pauperização” e a “juvenização”. Essas categorias surgem em relação às populações onde se disseminava o vírus e se tornaram, portanto, objetivo de estudo e conceituação dos especialistas para entender a epidemia. Dessa maneira, existe uma relação inversa entre evolução da epidemia e o território atingido, bem como uma relação temporal entre essa disseminação ou evolução e os grupos mais expostos ao vírus. Os conceitos criados dizem respeito às transformações ocorridas dentro do perfil da interiorização, que foi mudando ao longo do tempo e fazendo com que os especialistas tivessem que mudar no decorrer das transformações suas formas de análise de dados e dos padrões da epidemia. |