Resumo |
A presente pesquisa investiga, a partir de uma ótica diversa baseada na noção de Sujeito da Psicanálise, o livro Caim do escritor português contemporâneo José Saramago, ganhador do Nobel, tendo como objetivo analisar como se dá a relação entre Deus e o homem, e como estes sujeitos se constroem dentro da narrativa saramaguiana. A obra em questão emerge, na época de sua publicação, repleta das polêmicas que já faziam parte do horizonte saramaguiano, em um constante desmontar das grandes categorias teológicas da visão bíblica do mundo, Saramago faz de Caim a crítica da onipotência divina, de sua espiritualidade e de sua misericórdia (mais precisamente a falta da mesma). Justificando-se a atual pesquisa pela diferença perante as críticas antigas, que se debruçam de forma mais acentuada sobre a relação das obras saramaguianas com a história. Assim, se percebe facilmente um conjunto de fatores que expressam a importância de um estudo que insere o saber psicanalítico nas discussões literárias contemporâneas. Metodologicamente, desenvolve-se uma análise teórico-crítica da obra do escritor José Saramago, tendo em vista outras leituras teóricas de textos que abordam, tanto o estudo do autor e sua relação com o divino judaico-cristão, como obras que enfoquem a Psicanálise e a noção de sujeito. A análise é desenvolvida através da busca de momentos da obra que pudessem revelar a materialização de um Jeová cruel e desumano, possibilitando o estudo do confronto entre Caim e deus, assim como que permitissem analisar como a relação define os sujeitos em questão. Exploramos dois núcleos temáticos principais para a investigação prevista, sendo o primeiro núcleo sobre as obras do autor português, sua linha de força e a questão espiritual que aparecem em diversas obras do mesmo, como o comentado por Martins (2014) e Ferraz (2003), além de nos valermos de teorias acerca do sujeito na Psicanálise já delineada no horizonte freudiano e resgatadas nos estudos de Lacan. Vislumbramos, através dos resultados parciais, que a obra Caim permite ricos e amplos diálogos entre Literatura e Psicanálise, assim como desperta inúmeras outras possibilidades para o estudo das obras saramaguianas e das possibilidades desse autor. |