Resumo |
Como é sabido, os africanos vindos em levas crescentes durante praticamente todo período colonial deixaram marcas expressivas na cultura e sociedade brasileira, no entanto, tais marcas são muitas vezes invizibilizadas devido a desvalorização da cultura de matriz afro-brasileira. Considerando que tais marcas estão presentes em várias manifestações culturais e sociais, é de nosso interesse estudar como se disseminaram em Ponte Nova e Viçosa - cidades médias situadas no estado de Minas Gerais - a partir da análise de duas escolas de samba. Inicialmente, convém explicar que houve alteração na pesquisa. Optamos por pesquisar a escola de samba Academia de Samba do Bairro de Fátima ao invés da Unidos do Sapé, pois durante a pesquisa verificamos que a primeira tem uma maior tradição no município. Considerando os ritmos musicais e sociais que surgem nestes espaços como processos estruturados pelas distintas culturas urbanas, é nossa intenção entender o samba e as escolas de samba como expressões das tensões sociais em torno da apropriação dos espaços e tempos das cidades. Partindo dessa perspectiva, foi objetivo dessa pesquisa compreender como as escolas de samba Unidos dos Passos e Academia de Samba do bairro de Fátima tiveram um importante papel na vida social e cultural dos pobres na periferia das cidades de Viçosa e Ponte Nova. Para entender as estruturas organizativas das referidas escolas, foi realizada pesquisa bibliográfica, utilizando textos e artigos, que discorrem sobre a história do samba, da identidade negra, etnia, diáspora, e outros; pesquisas em jornais ponte-novenses realizadas nas duas bibliotecas públicas e no Arquivo Público de Ponte Nova e, também, em alguns jornais de Viçosa. Ainda desenvolvemos pesquisa de campo para analisar os locais em que as escolas de samba de Ponte Nova estão situadas e, além disso, entrevistas nos locais do samba. Adquirimos até o momento e compõem o acervo dessa pesquisa os seguintes materiais: jornais de Ponte Nova de 1903 até 1930 e de 1950 até 2015, que discorrem sobre a presença do carnaval no município. Em Viçosa possuímos materiais de jornais referentes ao período de 1984 até 1999 e entrevistas realizadas com alguns membros da escola de samba (Unidos dos Passos). Em Ponte Nova a pesquisa foi concluída e gerou como produto a minha monografia de graduação, intitulada “O território do samba em Ponte Nova MG: Marca da resistência de um passado escravocrata”. Neste trabalho assinalamos o samba como instrumento de resistência negra, haja vista que a permanência e a insistência dos integrantes da escola de samba em mantê-lo na referida cidade expressa e simboliza a luta dos afrodescendentes contra o preconceito e a inferiorização cultural e social. Ao questionarmos os locais do samba no município, dispostos predominantemente às margens do território, assinalamos, também, a conquista desses grupos pelo espaço de vida e reprodução, além de um conjunto de táticas para obterem prestígio e visibilidade social. |