Resumo |
A homossexualidade, considerada tabu durante muito tempo, só passou a deixar o quadro de hostilidade social quando adquiriu visibilidade, possibilitada pela atuação do Estado, do mercado e da mídia. Esta última, detentora do poder de influenciar a opinião pública, ao retratar indivíduos pertencentes a minorias, como os homossexuais, pode contribuir para reverter o contexto social do grupo ou, na contramão, reforçar estereótipos que serão consequentemente reproduzidos pela sociedade, dificultando, assim, debates importantes. Parece-nos ser esta a preocupação do Põe na Roda (disponível em: https://www.youtube.com/user/canalpoenaroda), um canal no youtube que, unindo ativismo, informação e humor, produz vídeos que tentam trazer para discussão temas do universo LGBT e mostrar a identidade do grupo, inexistente em alguns veículos de comunicação e ridicularizada em outros. Este é o objeto escolhido para as nossas análises, que têm como objetivos perceber como o canal tenta atingir estes propósitos e de que modo aborda as questões, assim como identificar de que forma a identidade gay, tanto a individual quanto a coletiva, é construída pelos vídeos, quais são as estratégias discursivas utilizadas para isso e se esta construção considera as alteridades existentes no próprio grupo. Até então, debruçamo-nos em bibliografias sobre identidade e homossexualidade, concomitantemente a observações preliminares dos vídeos do canal, nas quais estamos tentando encontrar marcas discursivas da construção das identidades, por meio de categorias da Análise do Discurso. Mesmo estando em andamento, em nossas análises iniciais, foi possível perceber que o uso do estereótipo como estratégia linguístico-discursiva parece ser de grande validade para a elaboração de atos de linguagem em que se pretende problematizar algumas questões e convencer o outro de determinadas posições. Adotar imagens cristalizadas na sociedade como recurso linguístico-discursivo tende a fazer com que o público compreenda sobre o quê se está falando para, num segundo momento, a partir da articulação texto e imagem e pela repetição do ato elocutivo proposto no vídeo possamos desconstruir a própria imagem estereotipada. De todo modo, ao recorrermos aos estereótipos como forma de tematizar, de ilustrar um determinado propósito discursivo, corremos o risco de, mesmo sem intenção, reforçar o próprio modelo cristalizado. Quando articulamos diferentes estereótipos e estes se referenciam numa tentativa de demarcação de identidade de posicionamento, podemos incorrer numa valoração depreciativa da representação que se apresenta como diferente. |