Resumo |
O Ciência sem Fronteiras, programa governamental criado em 2011 para incentivar a mobilidade acadêmica internacional, enviou mais de 92000 estudantes, entre graduandos e pós-graduandos, para universidades de 47 países, estando o Canadá em terceiro lugar no ranking com mais de 7300 bolsas implementadas. Em 2015, foi realizada uma pesquisa com os estudantes de mobilidade nas instituições canadenses, buscando avaliar suas percepções sobre o país e as contribuições do programa para a sua formação pessoal, acadêmica e profissional. Ao todo, 65 estudantes responderam as questões propostas sobre a experiência internacional, o que permitiu apontar alguns resultados importantes relativos aos impactos formativos do programa. Tais respostas foram transcritas, categorizadas e analisadas, apoiadas na metodologia de análise de conteúdos proposta por Laurence Bardin, o que possibilitou uma interpretação minuciosa dos resultados coletados. Dos 65 estudantes investigados, 48,5% são da região Sudeste, sendo que 87,7% deste montante são de instituições públicas. No tocante às influências na escolha do intercâmbio, os dados coletados ressaltaram algumas categorias importantes, dentre as quais: (i) qualidade do ensino/ sistema de Educação (14,3%); (ii) idioma (Língua Inglesa) (10,5%); e (iii) motivos pessoais (natureza do país, segurança etc. - 10,5%). As três categorias apontadas reforçaram que os estudantes conheciam superficialmente o país escolhido para o intercâmbio. Além disso, eles não possuíam uma análise crítica e minuciosa para esta escolha, muitas vezes sendo motivados por questões pessoais que não são contempladas explicitamente nos objetivos formativos do programa. Com relação às influências do programa para a formação pessoal-profissional, as três categorias mais expressivas foram: (i) aprendizado/aperfeiçoamento do idioma (19,1%); (ii) vivência cultural (16,9%); e (iii) crescimento pessoal (16,1%). Esse resultado, mais uma vez, reforça o distanciamento dos objetivos traçados entre o programa de mobilidade acadêmica internacional e os estudantes que dele participaram. Pautados nestes resultados, pode-se inferir que apesar do conhecimento de uma nova língua adquirida durante a mobilidade acadêmica internacional e o contato com novas culturas, o que pode ter favorecido um crescimento pessoal, a formação acadêmico-profissional não foi o foco principal dos estudantes pesquisados. Isto ressalta a importância de uma reformulação do programa, de modo que os estudantes possam se apropriar do conhecimento e da experiência no exterior, retribuindo para o seu país experiências e contribuições efetivas que possibilitem um intercâmbio de ideias que possam beneficiar diretamente as comunidades nas quais eles estão inseridos. |