Resumo |
O presente trabalho é parte integrante da pesquisa intitulada: “Integração e regionalização da informação sobre a violência contra a mulher: diálogo entre os sistemas oficiais de informação e a rede não especializada de atendimento às mulheres em situação de violência”, vinculada ao Núcleo Interdisciplinar de Estudos de Gênero (NIEG/UFV), o qual desenvolve outros trabalhos nas temáticas de gênero e saúde. Trata-se de um trabalho retrospectivo e descritivo, tendo como um dos objetivos analisar a contribuição do Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM) na busca ativa de casos de violência contra a mulher e as potencialidades dos comitês municipais de prevenção de óbitos maternos de se constituírem como serviços sentinelas de vigilância da mortalidade de mulheres em idade fértil (MIF) por violência. Como fonte de dados para pesquisa foram utilizadas informações sobre mortalidade e morbidade de MIF residentes no município de Viçosa entre os anos de 2009 a 2012 obtidos através do SIM e do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN), respectivamente. A partir dessas fontes de dados foram selecionados como critério para pesquisa casos de óbito de MIF por causas externas e mal definias, posteriormente, esses foram relacionados aos casos de violência notificados no SINAN. Como variáveis chaves para linkage entre os bancos de dados foram utilizadas o nome da mulher, a data de nascimento e o nome da mãe. De acordo com os dados do SIM, dos 74 óbitos de MIF investigados no período, em 10% dos casos não foi possível identificar a causa do óbito e 54% dos óbitos ocorreram devido a causas externas, categoria na qual a violência está inclusa. A comparação dos dados do SIM e das notificações de violência doméstica, sexual e outras violências indica em 9% dos casos de óbito de MIF no município de Viçosa havia notificação prévia de violência no SINAN. Os resultados encontrados até o momento permitem assinalar uma questão importante e que não deve ser desconsiderada que diz respeito ao evento feminicídio, uma vez que o alto percentual de óbitos por causas mal definidas e, também, por causas externas classificadas como eventos cuja intenção foi indeterminada podem ocultar casos graves ou extremos de violência contra a mulher. Além disso, os resultados sugerem possíveis falhas na rede de enfrentamento à mulher em situação de violência, uma vez que houve várias recorrências de notificação que antecederam ao óbito, sendo, portanto, um evento evitável se a intervenção ocorrer em tempo. Assim, a integração de uma rede não especializada de atendimento às mulheres em situação de violência correlacionado com a vigilância do óbito, que tem o objetivo de compreender como e porque o óbito ocorreu a fim de verificar falhas, pode fortalecer e definir estratégias para prevenção de novos eventos. |