Resumo |
Com a crescente a expansão do ensino superior brasileiro e as políticas de acesso a esse nível de ensino, os jovens provenientes das camadas sociais desfavorecidas chegam cada vez em maior número às universidades. Ampliado o acesso, a universidade pública brasileira vê-se diante de novas demandas, especialmente de políticas de assistência estudantil, para garantir a permanência desses "novos públicos" na educação superior e assegurar-lhes um ensino de qualidade. Dentre essas políticas, a disponibilização de moradia estudantil tem sido vista como viabilizadora da ampliação das chances dos universitários – que se deslocam geograficamente para cursar a educação superior – de concluírem seus estudos. Na UFV, destaca-se, desde a sua criação, seguindo o modelo de internato dos land-grand colleges norteamericanos, o apoio à moradia dos universitários socialmente desfavorecidos. Esse apoio, que perdura desde a criação da UFV até os dias atuais e é feito, dentre outros modos, por meio da disponibilização de vagas em alojamentos localizados no campus da UFV e do apoio financeiro para os estudantes residiriam em moradias coletivas. Diante da importância da moradia estudantil para os universitários de camadas populares e da configuração desse tipo de apoio na UFV, a pesquisa que deu origem a esse trabalho teve como objetivo de conhecer, descrever e analisar as experiências socializadoras e as formas de sociabilidade de graduandas de Pedagogia moradoras dos alojamentos localizados no campus. Os sujeitos da pesquisa foram duas graduandas de Pedagogia que residem em alojamentos há pelo menos dois anos e duas ex-moradoras, egressas do curso de Pedagogia e que atualmente são professoras do Departamento de Educação da UFV. Nessa pesquisa, partiu-se do pressuposto de que as relações de proximidade e convívio vivenciadas nos alojamentos favorecem a permanência de estudantes de camadas populares na universidade pública e colaboram com os processos de afiliação intelectual dos mesmos. A geração dos dados primários foram obtidos por meio de entrevistas semiestruturadas. Também foram utilizados dados secundários obtidos na UFV e em pesquisas nacionais sobre a assistência estudantil produzidas pelo Fórum Nacional de Pró-Reitores de Assuntos Comunitários e Estudantis (FONAPRACE). Os dados obtidos indicam que para as graduandas "morar no alojamento" aparece como imprescindível para a conclusão dos estudos. Diante disso, elas buscam fazer do alojamento “uma casa” e obter o apoio afetivo das companheiras de quarto para a superação dos problemas relacionados às pressões acadêmicas, afastamento da família e privações de ordem financeira. Mas, a condição de moradia em alojamento é apontada também como uma experiência marcada pela falta de privacidade, é um “espaço de todo mundo”, todo o tempo. A localização dos alojamentos no campus é apontada como favorecedora das atividades acadêmicas,bem como para "aproveitar as atividades" científicas e culturais que ocorrem nesse espaço. |