Resumo |
Estágios imaturos de mosquitos são vulneráveis a uma variedade de predadores. A maior parte dos estudos se preocupa em avaliar a eficácia desses predadores no consumo de larvas de mosquitos hematófagos. Entretanto, predadores não afetam populações de presas apenas quando há consumo. Isso porque, presas podem se defender alterando alguns traços fenotípicos e, assim, reduzir o risco de mortalidade. O objetivo do trabalho foi verificar se pistas da presença da larva predadora Toxorhynchites theobaldi (Diptera: Culicidae) são capazes de influenciar o comportamento das larvas de três espécies de presas da mesma família, sendo elas Culex mollis, Limatus durhamii e Aedes albopictus. Os sinais químicos de T. Theobaldi foram coletados deixando uma larva desse predador em um recipiente com água deionizada por 96 horas. Após esse período, a larva foi removida e a água imediatamente usada nos testes, sendo essa água assinalada como substrato tratado (ST). Como controle (SC), utilizamos água deionizada pura, em repouso por 96 horas. A cada rodada do teste, uma larva era transferida para a arena (placa de petri com ST ou SC). Após um tempo de aclimatação, a atividade da larva era registrada por 10 minutos, através de uma câmera de filmagem. Depois de feitas todas as gravações, as imagens foram analisadas, cronometrando o tempo gasto nas atividades possíveis realizadas por cada indivíduo. Observamos que, na presença de indícios do predador (ST), imaturos de C. mollis passam maior parte do tempo em repouso (82,7%), quando comparado com a ausência de sinais de T. theobaldi (49,3%) (p<0,001). Por outro lado, imaturos de L. durhamii e A. albopictus não apresentaram alterações comportamentais significativas na presença dos mesmos sinais. Presas que se movimentam menos podem ser menos vulneráveis aos predadores de emboscada, como é o caso do T. theobaldi. Para verificar se as diferenças comportamentais entre as espécies influenciam na taxa de predação, realizamos um teste de vulnerabilidade. Foram colocados em recipientes com água, serapilheira e 10 larvas de quarto instar de C. mollis, L. durhamii e A. albopictus e uma larva de T. theobaldi. Posteriormente as presas eram contabilizadas, sendo registrado o número de indivíduos consumidos de cada espécie. C. mollis foi predado em uma menor proporção que as demais (p<0,001), sugerindo que essas alterações comportamentais influenciam na vulnerabilidade das espécies. Assim, concluímos que a probabilidade da evolução de respostas defensivas induzidas pelo risco de predação está relacionada a diversos fatores, como o histórico de contato com o predador ao longo do tempo evolutivo, e o padrão fixo e flexível de comportamento das presas. |