Resumo |
O processo criativo é um tema que tem despertado o interesse de pesquisadores brasileiros em dança, assim, este estudo pretende contribuir com reflexões neste campo, pois o objetivo geral é analisar o processo colaborativo no projeto de composição em dança intitulado “Arte, dança e democratização de acesso a bens culturais imateriais” que foi divulgado ao público em geral como Ibura. Neste trabalho, as mesmas estratégias de composição coreográfica foram aplicadas a um grupo com pessoas de diferentes repertórios corporais e vivências em dança considerando princípios do processo criativo. A metodologia adotada nesta investigação foi a pesquisa-ação, cujo princípio básico é uma ampla e explícita relação entre os pesquisadores e as pessoas envolvidas na situação investigada, ou seja, os participantes são os atores da situação. Como procedimentos metodológicos, foram utilizados a observação participante (anotações descritivas e reflexivas feitas em diários de bordo) e questionários escritos que foram aplicados com os participantes antes e ao final do trabalho de campo de cada uma das duas obras produzidas, “DUA” e “Pele”. Os dez participantes eram alunos do Curso de Dança, Comunicação Social e Engenharia Ambiental, todos cursos de graduação da UFV, e membros da comunidade viçosense com faixa etária e experiência em dança diferenciados. Após escolherem os temas a serem trabalhados, os participantes, divididos em duas turmas, receberam estímulos para criarem os movimentos das obras “DUA” e “Pele”. O trabalho de direção foi realizado no sentido de organizar estas movimentações corporais, além de células e frase coreográficas, em cenas dos respectivos trabalhos artísticos. No processo colaborativo minimizam-se hierarquias e todos participam ativamente da criação das obras. No Projeto Ibura não foi diferente, pois os bailarinos participaram intensamente na elaboração do tema, criação dos movimentos, figurinos, iluminação, maquiagem, penteado, músicas, nomes das obras e definição do local onde elas foram apresentadas. Concluímos que os resultados foram bastante positivos, dentre eles destacamos: o maior conhecimento dos participantes sobre o processo colaborativo na composição coreográfica; a aprendizagem sobre enfrentamento e superação de desafios na criação de duas obras artísticas a partir da colaboração de cada participante; a ampliação do relacionamento interpessoal, pois observamos uma boa convivência crescente entre os participantes durante os laboratórios criativos; aumento das trocas de conhecimento entre os participantes e diretoras. Concluímos que o processo colaborativo em arte é uma importante forma de se promover o relacionamento mais horizontalizado e democrático entre artistas envolvidos em processos de criação. Por isso, este é um assunto que deve ser objeto de futuras investigações a fim de aprimorarmos o modus operandi da dança. |