Resumo |
Dentre os diversos micro-organismos de preocupação na indústria de alimentos, encontra-se Bacillus cereus, um patógeno alimentar que tem adquirido importância crescente em relação à saúde pública. Os esporos produzidos por este micro-organismo são resistentes a diferentes condições adversas, como altas temperaturas, radiações, entre outras, permanecendo viáveis após a cocção dos alimentos. A maioria das estirpes de B. cereus é capaz de produzir uma grande variedade de metabólitos extracelulares, os quais são consideradas fatores de virulência, envolvendo surtos de doenças associadas com alimentos. A presença deste micro-organismo nas superfícies de equipamentos na indústria de alimentos é muito comum. Essa bactéria possui grande capacidade de aderir a superfícies de aço inoxidável em usinas de leite, sendo um obstáculo à conservação do leite pasteurizado e derivados. Nesta pesquisa, avaliou-se a adesão dos genótipos enterotoxigênicos de B. cereus nas formas vegetativa e esporulada à superfície de aço inoxidável 304 # 4, a 10 ° e 32 °C. Entre os genótipos, a uma mesma temperatura, a adesão não apresentou diferença significativa (p>0,05), pelo teste de F. Porém, houve efeito significativo (p < 0,05) em relação à temperatura (10 °C e 32 °C) para as estruturas fisiológicas no processo de adesão ao aço inoxidável entre os genótipos à mesma temperatura (10 °C e 32 °C). Observou-se que a 32 °C, a forma vegetativa aderiu em maior quantidade. Isso pode ter ocorrido, pelo fato de a 10 °C, a bactéria não produzir apêndices celulares que contribuem para maior adesão, predominando os fatores físico-químicos, como a hidrofobicidade superficial, que é maior para os esporos. Porém, a 32 °C, apêndices celulares podem ser produzidos por células vegetativas, e os fatores microbiológicos sobrepõem aos físicos-químicos, resultando em maior adesão das células. A variação de 22 °C na temperatura foi suficiente para que a adesão das células vegetativas de todos os genótipos fosse quase dois ciclos logarítmicos maior em comparação a 10 °C, confirmando a importância e a influência da temperatura no processo de adesão. O efeito da temperatura sobre a adesão de células vegetativas e esporos de B. cereus, também pode ser explicado, entre outros fatores, pelas interações hidrofóbicas. Estas interações são regidas pela entropia do sistema, portanto o aumento da temperatura favorece a componente entrópica. Desta forma, à medida que a temperatura aumenta, as interações hidrofóbicas se tornam mais fortes, favorecendo a adesão. Embora não tenham sido reportados na literatura trabalhos específicos, que quantifiquem a adesão de genótipos enterotoxigênicos de B. cereus em superfície de aço inoxidável, estes parecem não influenciar o processo de adesão, visto que o genótipo que não possui gene para codificação de enterotoxina, aderiu da mesma forma (p > 0,05) ao aço inoxidável comparado aos demais genótipos enterotoxigênicos. |