Resumo |
INTRODUÇÃO: A síndrome de resposta inflamatória sistêmica (SIRS) de origem infecciosa é denominada sepse. Trata-se de uma das mais importantes complicações infecciosas da medicina contemporânea, tanto por sua incidência, quanto por sua gravidade e por seu grande potencial de evolução para o óbito. Apresentando fundamental importância na fisiopatologia dessa enfermidade estão as citocinas pró-inflamatórias – mediadores necessários à condução da resposta inflamatória direcionada ao patógeno –, as quais, caso sejam produzidas em grande escala, podem desencadear manifestações sistêmicas graves, como o choque séptico e a disfunção de múltiplos órgãos e sistemas (DMOS). OBJETIVOS: Revisar o papel das citocinas pró-inflamatórias na sepse e sua possível participação na estimativa do prognóstico da condição mórbida. MÉTODOS: Realizada revisão da literatura na BVS (Biblioteca Virtual em Saúde) e no Portal de Periódicos da Capes. Os termos utilizados na – e combinados para a – pesquisa foram sepse e citocinas, bem como seus correspondentes em inglês, sepsis e cytokines. RESULTADOS E DISCUSSÃO: Os mediadores TNF-α, IL-1, IL-6, IL-12, IL-17, interferon gama, MIF, HMGB possuem papéis centrais na resposta pró-inflamatória da sepse. Embora tais moléculas difiram entre si em termos da sua fonte, cinética e ao estágio de sepse durante o qual predominam, todas essas substâncias têm efeitos pleiotrópicos, conectando díspares vias da resposta imune. O curso da sepse – seja para a cura seja para o óbito – tem íntima relação com a produção de citocinas. Uma resposta pró-inflamatória exacerbada possui papel relevante no desenvolvimento de consequências deletérias, como a DMOS. Por esse motivo, é cada vez mais aventada a possibilidade de utilização das citocinas como biomarcadores na prática médica. Em alguns estudos, IL-1β, IL-6, IL-8, IL-10, MCP-1 e G-CSF são elencadas como citocinas que se correlacionam positivamente com a progressão para DMOS. Em doentes com sepse grave, por exemplo, altos níveis de IL-1α, IL-4, IL-6, IL-8, proteína quimiotática de monócitos-1 (MCP-1) e fator estimulador de colônias de granulócitos (G-CSF) mostraram associação com a mortalidade. Sendo que, em termos temporais, as citocinas IL-1β, IL-4, IL-6, IL-8, MCP-1 e G-CSF estão mais relacionadas com predição de mortalidade precoce (<48 horas) e IL-8 e MCP-1 têm melhor precisão para a previsão de mortalidade tardia. No entanto, no estágio atual do conhecimento, os padrões de citocinas associados com DMOS, bem como a outros desenlaces – favoráveis ou não –, não estão bem estabelecidos e nenhum biomarcador apresenta 100% de precisão em termos de predição de resultados. CONCLUSÃO: O diagnóstico de sepse, seu manejo e predição de prognóstico representam grandes desafios em termos clínicos. Esforços para aumentar o conhecimento da fisiopatologia da SIRS e para identificar precocemente os prováveis desenlaces da sepse – utilizando-se experimentação in vivo, in vitro e in silico – são necessários. |