Resumo |
Dados de uma pesquisa realizada em 2012 pelo Instituto Pró-Livro revelaram que o brasileiro lê em média quatro livros por ano e apenas metade da população pode ser considerada leitora. O preço do livro não apareceu como fator de impedimento da leitura, mas sim a falta de conhecimento do prazer de ler. Há disponibilidade de tempo para ver televisão, mas o mesmo não se pode dizer com relação à leitura. Diante desse contexto, o ambiente familiar com estímulo à prática da leitura é importantíssimo, mas a escola tem um papel a cumprir para vencer o baixo nível de letramento dos jovens brasileiros em idade escolar. Pensando sobre essa situação e atentando para o fato de que o escritor Monteiro Lobato tinha por projeto promover a leitura para o público juvenil brasileiro, a presente pesquisa propõe a análise de duas obras do escritor, História do mundo para as crianças (1933) e Geografia de Dona Benta (1935), visando discutir sua contribuição para a formação do leitor, na medida em que essas obras trazem questões importantes da cultura letrada e das ciências modernas para o universo infantil. O método de trabalho foi a pesquisa bibliográfica realizada em livros de teoria e crítica literária sobre narrativa, geografia e história, acompanhada de leitura e interpretação das duas obras mencionadas, fazendo convergir o conteúdo científico e imaginativo presente nas obras com conteúdos que estão em livros didáticos de história e geografia. A pesquisa iniciou-se em março de 2013 e encontra-se em andamento. Os resultados alcançados até o momento apontam para a presença de dados históricos, científicos e geográficos desatualizados nas obras de Lobato, como os de densidade demográfica e divisões dos Estados brasileiros. Porém, a leitura das obras permanece válida tanto pelos aspectos imaginativos de uma viagem fantástica em um navio faz-de-conta, quanto pelo convite aos estudos da ciência, história e geografia para o leitor curioso buscar atualizações e, ainda, pela possibilidade de se comparar como o mundo nos anos 1930 foi entendido e formulado pelo escritor Monteiro Lobato, ou seja, pela validade de se estudar a história do pensamento por meio da literatura. Como exemplo, poderíamos pensar a polêmica atual sobre o suposto racismo do escritor Monteiro Lobato, que deve ser posta em dois termos: o do homem e o de sua obra. No que tange à obra Geografia de Dona Benta, há um momento em que as diversas raças que povoam a terra são apresentadas. Observa-se que o conceito de raça presente na obra é datado e não corresponde às nossas concepções contemporâneas. |