Resumo |
Este estudo busca compreender as novas dinâmicas de organização do trabalho artesanal inseridas no contexto econômico brasileiro atual, considerando as mudanças nas conformações desse tipo de trabalho ao longo da história. No modelo atual de sociedade onde predomina o modo capitalista de produção, o trabalho assume forma de mercadoria e sua finalidade passa a ser econômica. Sendo assim, as atividades que não se enquadram neste modelo são “desvalorizadas” economicamente e principalmente socialmente – neste caso, os sujeitos se percebem menos qualificados e detentores de um saber de baixa localização na hierarquia dos saberes. Transformações no mundo do trabalho ocorreram a partir da Revolução Tecnológica, que compreendeu o desenvolvimento de alta tecnologia, da automação, da robótica e da microeletrônica, cuja inserção nas fábricas ocasionou mudanças relacionadas principalmente às relações de trabalho, entre elas a diminuição do “proletariado industrial tradicional” e, consequentemente, aumento das formas desregulamentadas de trabalho (ANTUNES, 2006; ANTUNES, 2003; GRISCI, BESSI, 2004). Esses acontecimentos também refletiram no cenário brasileiro, com o aumento do desemprego, a degradação salarial e a precarização do trabalho (informal, temporário, parcial e precário), ocasionando o aumento das possibilidades de empregos sem registro em carteira e criando assim condições de “instabilidade”, no que se refere à fala de proteção e de cidadania plena devido à perda de direitos trabalhistas (MATSUO, 2011). A partir dos anos 1990, como consequência dessas transformações e do esvaziamento rural e das cidades de pequeno porte, iniciou-se no país um movimento de valorização do artesanato, como forma alternativa de fixação dos indivíduos no interior e na zona rural, por meio de estratégias de empregabilidade e geração de renda, que se efetivou a partir de iniciativas cujos discursos são de valorização da cultura local como forma de fortalecimento da identidade regional. No atual cenário político e econômico onde predominam organizações cujas conformações produtivas são baseadas no capitalismo, os artesãos buscam a melhor forma possível de se organizarem, de acordo com suas necessidades específicas. Neste estudo serão tratados cinco modos de organização do trabalho artesanal, sendo eles: artesãos individuais, núcleos de produção artesanal familiar, grupos informais de produção artesanal, empreendimentos solidários e empresas artesanais. Cada um deles apresenta peculiaridades, como o envolvimento dos familiares e interações entre os membros inseridos na atividade, o local onde a mesma é realizada (coincidindo ou não com o ambiente doméstico), o nível de “formalização” e, também, o acesso aos fornecedores e consumidores. Mas também se assemelham na elaboração de estratégias, numa tentativa de inserirem a si mesmos e os seus produtos econômica e socialmente no mercado atual. |