Resumo |
O trabalho “Da fazenda ao bairro: a construção de uma Nova Viçosa (1970-2000)” apresenta um estudo sobre o nascimento de Nova Viçosa, localizado na periferia da cidade. Esta pesquisa tem como objetivo principal problematizar o discurso de fundação de Nova Viçosa, efetuado pelos sujeitos responsáveis e envolvidos no seu processo de constituição. Também procuramos discutir a idealização e propaganda na construção de Nova Viçosa. Para embasar nossas reflexões, adotamos como recorte temporal a década de 1970, momento em que a cidade passa por transformações espaciais significativas em função da federalização da universidade, do desenvolvimento do mercado fundiário, e da mudança na estrutura demográfica. Finalizamos nossa análise em 2000, quando este bairro se encontrava totalmente instalado. A pesquisa se apoia em levantamento realizado nos principais jornais da cidade, em entrevistas semiestruturadas e em bibliografia especializada no tema espaço urbano. Nova Viçosa foi lançado na cena pública em quatro de maio de 1978, sendo que na oportunidade a Construtora Chequer assinalou a sua responsabilidade quanto à demarcação e venda dos lotes e instalação de infraestrutura. Antônio Chequer, proprietário da Construtora, prometeu aos pobres migrantes que se deslocaram para o bairro a possibilidade de conquistar o sonho da casa própria, doando alguns lotes ou vendendo-os a preços módicos. A promessa de uma nova vida, começou a ser propagandeada a partir de vinte e oito de maio de 1978, quando o Jornal Integração inicia uma intensa propaganda de venda de terrenos no bairro. Como constatado em entrevista, um anúncio também foi exibido no rádio sobre o loteamento. Seu conteúdo convocava a população da região para morar em Nova Viçosa, assim como fazer parte do progresso da Construtora Chequer, adquirindo os “excelentes imóveis” por ela ofertados. No entanto, a despeito do discurso propalado por Chequer, ao chegar ao bairro os migrantes se deparam com um local marcado pela total precariedade. Faltavam vias de acesso e as existentes não possuíam pavimentação e, além disso, não estavam instalados os serviços de energia elétrica, água tratada e esgoto como fora prometido. Os migrantes que tinham a esperança de encontrar na “nova” Viçosa um bairro com um mínimo de infraestrutura, vivenciaram ao chegar no local uma dura realidade, passando a enfrentar por vários anos problemas como de falta de água, luz e transporte público. É importante frisar que a Construtora em 1976, no anúncio de venda de lotes nos bairros João Braz e Santa Clara, foi categórica ao afirmar no jornal Integração que era a única empresa que entregava lotes com luz, água, calçamento e esgoto. Entretanto, em Nova Viçosa a alocação de infraestrutura não ocorreu, sendo os migrantes atraídos por esta falsa promessa. Portanto, consideramos que a propaganda foi uma estratégia empregada por Chequer para se apropriar do espaço de Nova Viçosa e divulgar seu empreendimento imobiliário na região. |