Resumo |
Introdução: A escolha do tipo de parto é sempre muito complexo para a mulher, estando relacionado a vivências anteriores e relato de experiências. Estudos evidenciam que a maior parte das mulheres opta por parto cesáreo. A Organização Mundial da Saúde preconiza como ideal uma taxa de cesarianas entre 10% e 15%, respeitando as corretas indicações para esse procedimento. Dados do DATASUS (Departamento de Informática do SUS) Região Sudeste apresentam, respectivamente, o menor índice de parto normal e a maior taxa de cesarianas realizadas pelo Sistema Único de Saúde. Dentre os riscos para gravidez o Ministério da Saúde destaca a situação conjugal insegura, podendo apresentar consequências negativas para o parto. Objetivo: Associar o tipo de parto ao estado civil materno. Metodologia: Pesquisa quantitativa realizada a partir de prontuários de partos de residentes em Viçosa e microrregião, em hospital filantrópico de Viçosa-MG, no ano de 1992. Resultados: Foram analisados 815 prontuários dos quais 10 (1,23%) não tinham registro do estado civil, 121 (14,84%) eram solteiras, 663 (81,35%) casadas e 21 (2,58%) tinham outros tipos de relacionamentos (relação estável, viúva). Das mulheres solteiras 72 (59,51%) foram submetidas à cesariana e 49 (40,49%) tiveram parto normal, enquanto que nas mulheres casadas evidenciou-se 457 (68,93%) cesarianas, 204 (30,77%) partos normais e 2(0,3%) fórceps. Para as mulheres que possuíam outros tipos de relacionamentos 12 (57,14%) foram partos cesáreos e 9 (42,86%) normais. O estudo verificou que o parto cesáreo foi superior ao parto normal independente do estado civil, diferentes de estudos publicados onde a maior taxa de cesariana foi observada entre mulheres casadas/em união consensual, enquanto a do parto vaginal foi maior entre mulheres solteiras. Conclusão: A mulher como protagonista do seu processo de gerar e parir tem o direito de optar por seu tipo de parto. Neste contexto, a prática obstétrica apropria-se deste discurso para justificar o pedido da gestante para a realização da cesariana. Porém, a aparente “liberdade de escolha” outorgada à mulher é, muitas vezes, acompanhada da falta de informações adequadas sobre os riscos envolvidos nos procedimentos relacionados ao parto e ao nascimento A cesariana, outrora considerada um procedimento de exceção, indicada em situações de risco de vida para a gestante e/ou feto, é na atualidade um procedimento cirúrgico na maioria das vezes programado, sem a identificação médica de nenhum risco definido, ou simplesmente como vontade da gestante. A “medicalização” do parto, ou seja, a mudança de assistência baseada na plausível segurança dos procedimentos médicos intervencionistas transformou o parto normal em um parto passível de intervenções, ou seja, de risco. Os dados obtidos neste estudo demonstram a necessidade da modificação das práticas dos profissionais que atuam na assistência pré-natal, visando à prevenção dos riscos relacionados ao parto operatório. |