Resumo |
O gênero Coccocypselum P. Browne é tipicamente distílico, assim como vários outros (p. ex. Psychotria L. e Palicourea Aubl.) na família Rubiaceae. A distilia é um polimorfismo floral, geneticamente controlado, caracterizado pela presença de dois morfos florais, brevistilo (B) e longistilo (L), na mesma população, mas em indivíduos distintos. Outra característica relacionada à distilia é o sistema de autoincompatibilidade intramorfos (B x B ou L x L). Apenas polinizações intermorfos (L x B ou B x L), realizadas pelos vetores de pólen, resultam em frutificação. Entretanto, tem sido comumente registrada a quebra da incompatibilidade em espécies distílicas, uma estratégia reprodutiva que pode ter surgido devido à ausência de polinizadores e ao desflorestamento. Adicionalmente à autocompatibilidade, algumas espécies inicialmente distílicas tornaram-se homostílicas, ou seja, com um único morfo floral, sem distinção no tamanho do estilete. Esse fato foi registrado em Palicourea macrobotrys (Ruiz & Pav.) DC., P. coriacea (Cham.) K. Schum, P. alpina (Sw.) DC. e em algumas espécies de Psychotria. Foi objetivo estudar a fenologia reprodutiva, a morfologia floral e o sistema reprodutivo de Coccocypselum geophiloides. Para tanto, foram utilizados 10 indivíduos de população natural localizada na Estação de Pesquisa, Treinamento e Educação Ambiental Mata do Paraíso, o maior fragmento de floresta semidecídua do município de Viçosa, MG (20°45’ Sul, 42°55’ Oeste), com apenas 194 ha. Para os estudos fenológicos, 10 indivíduos foram acompanhados semanalmente, de agosto de 2012 a julho de 2013 e foi registrada a ausência ou presença de cada fenofase (floração e frutificação). Dados morfométricos foram coletados em 25 flores de cinco indivíduos: comprimento do estilete, incluindo os estigmas, e do estame. O sistema reprodutivo foi avaliado através de testes de polinização (polinização aberta, polinização cruzada, autopolinização espontânea, autopolinização manual e agamospermia) realizados em 19 flores de 15 indivíduos. A espécie floresceu de novembro a março (estação chuvosa) e frutificou de setembro a junho (estação seca). As flores apresentaram-se homostílicas, com as alturas médias do estilete (8,82mm ±1,15) e estame (7,17mm ±0,41) se sobrepondo, favorecendo a autopolinização. De fato, houve frutificação nos testes autopolinização espontânea (33%) e autopolinização manual (17%), caracterizando a espécie como autocompatível. Nos demais testes a frutificação foi de 100% (polinização aberta), 33% (polinização cruzada) e 0% (agamospermia). Verificou-se, portanto, que C. geophiloides, na área de estudo, independe de polinizadores (raramente observados) para que ocorra a frutificação. A homostilia, nessa espécie, além de inédita, parece ser uma característica derivada, considerando que o gênero é distílico, e que favorece a manutenção de sua população na área de estudo. |