Resumo |
O presente trabalho insere-se na área de Linguística, particularmente na subárea de Linguística Textual e, mais especificamente, na sua vertente conhecida como Gramática Textual-interativa. No âmbito dessa abordagem textual-interativa, Penhavel (2010) analisou a estruturação interna de Segmentos Tópicos (SegTs) mínimos em textos do gênero Relato de Opinião e concluiu que esse processo de estruturação textual é altamente sistemático, passível de ser sintetizado em termos de uma regra geral de estruturação de SegTs mínimos. A partir disso, o autor formulou a hipótese de que esse processo seria igualmente sistemático nos gêneros textuais de modo geral e propôs um programa de pesquisa voltado para analisar a existência de regras gerais de estruturação de SegTs mínimos em diferentes gêneros textuais. Nesse sentido, o objetivo da nossa pesquisa foi analisar a estruturação de SegTs mínimos em um gênero textual particular, a saber, o gênero Carta de Leitor, considerando Cartas de Leitores publicadas no estado de Minas Gerais, para verificar se, nessas cartas, seria possível identificar alguma regra geral de estruturação de SegTs mínimos. Para desenvolver esse objetivo, selecionamos um conjunto de Cartas de Leitores extraídas do Jornal “Estado de Minas”, publicadas no mês de janeiro de 2013, e procedemos à análise dessas cartas, seguindo um método empírico-indutivo, de natureza prioritariamente qualitativa. As análises que desenvolvemos indicam que a estruturação de SegTs mínimos nas Cartas estudadas seria o resultado de uma interação de duas regras gerais de estruturação de SegTs mínimos – uma regra geral de Cartas de Leitores de períodos mais antigos do português e uma regra geral típica de textos atuais do gênero Relato de Opinião. Em Cartas de Leitores antigas (especificamente, Cartas de jornais paulistas do século XIX), os SegTs mínimos estruturam-se (conforme descrito em Penhavel & Guerra, 2010) em duas unidades básicas: Discussão (a discussão de um problema) e Interpelação (pedido de solução para esse problema). Já em Relatos de Opinião atuais (conforme analisado em Penhavel, 2010), os SegTs mínimos organizam-se com base na alternância entre dois outros tipos de unidades, de natureza argumentativa: Posição (a proposição de uma tese) e Suporte (o desenvolvimento dessa tese). Nas Cartas de Leitores que analisamos em nossa pesquisa, os SegTs mínimos parecem ser estruturados com base na integração dessas duas regras gerais, isto é, com base em uma combinação da regra [Discussão-Interpelação] com a regra [Posição-Suporte]. Esses resultados nos levaram a depreender duas principais conclusões: (i) o gênero Carta de Leitor parece ter passado por uma alteração histórica, aproximando-se de um gênero de natureza mais dissertativo-argumentativa; (ii) a estruturação de SegTs, de fato, parece ser um processo sistemático, passível de descrição em termos de regras gerais de estruturação. |