Resumo |
A dispersão de frutos e sementes é um processo crucial para a sobrevivência das populações e espécies de plantas, pois reduz a mortalidade de sementes e plântulas, oriunda da proximidade com a planta-mãe, e favorece a colonização de novas áreas. Além disso, os frutos carnosos são indispensáveis para a manutenção de diversas espécies de animais, que dependem parcialmente ou exclusivamente de frutos para sua alimentação. Nesse contexto, objetivou-se analisar as síndromes de dispersão de diásporos das espécies lenhosas de um Cerrado sensu stricto em Rio Paranaíba- MG, a fim de responder às seguintes perguntas: 1) Quais síndromes de dispersão estão presentes na comunidade estudada? 2) Quais as frequências dessas síndromes entre as espécies e indivíduos dessa comunidade? 3) O fragmento estudado possui cerca de 15 ha de Cerrado sensu stricto. Para a amostragem da comunidade foram alocadas 10 parcelas de 100m2 e amostrados todos os indivíduos com CAS (circunferência à altura do solo) ≥ 10 cm. As síndromes de dispersão dos diásporos, baseadas na morfologia dos frutos e sementes, foram classificadas em: zoocoria (dispersão por animais; frutos carnosos ou com estruturas que promovam a adesão), anemocoria (dispersão pelo vento; frutos ou sementes aladas ou plumosas) e autocoria (auto-dispersão; sem as características relatadas para as demais síndromes). Foram analisadas 44 espécies e 383 indivíduos e registradas três síndromes de dispersão: zoocoria, representada apenas por frutos carnosos, anemocoria e autocoria. A zoocoria foi o mecanismo de dispersão mais comum entre as espécies, registrado em 66%, seguido por anemocoria, em 27%, e autocoria, em 7%. Ao analisar a abundância das síndromes entre os indivíduos também houve predominância da zoocoria, observada em 53% dos indivíduos, seguida da anemocoria, em 36%, e da autocoria, em 11%. Dentre as cinco espécies mais abundantes duas foram zoocóricas e três anemocóricas, estas foram: Erythroxyllum daphinitis Mart. (zoocórica; 78 indivíduos), Dalbergia miscolobium Benth. (anemocórica; 41), Qualea multiflora Mart. (anemocórica; 39), Lafoensia pacari A.St.-Hil (anemocórica; 33) e Plenckia populnea Reissek (zoocórica; 28). A elevada frequência da zoocoria demonstra a importância desse fragmento para a alimentação da fauna frugívora, uma vez que todas as espécies zoocóricas deste trabalho apresentam frutos carnosos. E daphinitis Mart., a espécie mais abundante, é ornitocórica, representando assim um importante recurso alimentar para diversas espécies de aves da região, as quais parecem atuar com eficácia na dispersão dessa planta. A frequência da zoocoria observada no presente estudo foi superior à de outros cerrados. Esses resultados demonstram estreita relação entre a vegetação lenhosa e a fauna na manutenção dessa comunidade de Cerrado sensu stricto. |