Resumo |
Os peixes do gênero Astyanax pertencem à família Characidae (Teleostei, Characiformes) e são popularmente conhecidos como lambaris ou piabas. Astyanax aff. bimaculatus compreende um grupo de espécies amplamente distribuídas na região Neotropical. A principal característica desse grupo é uma mancha ovalada na região umeral. Alguns exemplos deste grupo são as espécies Astyanax asuncionensis (bacia do rio Paraguai e baixo Paraná), Astyanax abramis (bacia do rio Paraguai e baixo Paraná e bacia Amazônica) e Astyanax lacustris (bacia Costeira e do rio São Franscisco). No presente estudo foi realizado um estudo filogeográfico de populações dessas espécies utilizando a associação entre sequências de DNA mitocondrial e morfometria. Os espécimes foram capturados em pontos ao longo da bacia do rio Paraguai (A. abramis dos rios Cuiabá e Taquari e A. asuncionensis dos rios Paraguai e Miranda) e do rio São Francisco (A. lacustris de Três Marias/MG, Bambuí/MG e Iguatama/MG). Os dados morfológicos foram obtidos utilizando um paquímetro digital e analisados com o software PAST v2.0. Amostras de tecido de até cinco indivíduos de cada local foram utilizadas para a extração de DNA e subsequente amplificação de cerca de 900 pb da região correspondente ao gene mitocondrial ATPase 6/8. As seqüências foram analisadas utilizando o software MEGA v5. A Análise de Componentes Principais permitiu a visualização da estruturação de todas as sete populações com apenas uma exceção, entre as duas populações de A. asuncionensis, que mostraram sobreposição. Os dois componentes principais explicaram 89,1% da variação observada. Apesar da sobreposição observada pela PCA, o dendrograma de UPGMA baseado na distância Euclidiana permitiu a correta observação de todos os agrupamentos populacionais, aproximando A. asuncionensis de A. lacustris do Alto rio São Francisco (Iguatama e Bambuí) e distanciando-as de A. abramis e de A. lacustris de Três Marias. Por outro lado, o filograma de Máxima Verossimilhança baseado na sequência mitocondrial evidenciou quatro agrupamentos. Um deles formado pelas duas populações de A. asuncionensis; outro formado pelas duas populações de A. abramis; o terceiro formado por A. lacustris de Três Marias e Bambuí; e o quarto grupo formado por A. lacustris de Iguatama. A grande distância genética observada entre as populações de A. lacustris de Bambuí e Iguatama, muito próximas geograficamente, sugere haver uma nova espécie com problemas de identificação taxonômica na região. Adicionalmente, é marcante a diferenciação morfológica entre as populações de A. abramis a despeito de sua pequena distância genética e geográfica. A ampliação dos estudos na região poderá contribuir para a descrição de uma nova espécie de lambari do rio São Francisco. |