Resumo |
Esta pesquisa foi desenvolvida com o objetivo de compreender a reconfiguração da identidade de mulheres que se aposentaram em cargos de gerência pela perspectiva de seus familiares. O número de brasileiros acima de 60 anos correspondia a 13% da população nacional em 2013 (PNAD, 2014), correspondendo a 26,1 milhões de pessoas. Destes, a maior parte é mulher (13,84 milhões) e vive em áreas urbanas (20,94 milhões). As mudanças nas variáveis demográficas aliadas à mudanças nos padrões culturais e nos valores relativos ao papel social da mulher alteraram a identidade feminina, e esta identidade está cada vez mais voltada para o trabalho produtivo. Sendo assim a aposentadoria é considerada um fato marcante na vida das mulheres, e também das pessoas que com elas convivem, pois rompe com essa realidade ao qual estavam acostumadas e oferece a elas a possibilidade de reconstrução de suas realidades e consequentemente de sua identidade. Esta pesquisa fez parte de um projeto guarda-chuva sobre a aposentadoria gerencial feminina considerando que o exame das percepções individuais em relação à aposentadoria deve ser conjugado com a análise de outros discursos, na medida em que o indivíduo não é o único responsável pela construção de sua identidade. Ou seja, as relações entre indivíduos, agentes organizacionais e discursos institucionais e culturais/sociais são dinâmicas e recíprocas, influindo diretamente no processo de configuração de sua identidade (ASHFORTH, HARRISON e CORLEY, 2008). Essa pesquisa, de abordagem qualitativa e natureza descritiva, teve duração de agosto/2014 a julho/2015, analisando os sentidos construídos para a aposentadoria gerencial feminina na percepção de seus familiares. Para tanto, foram realizadas dez entrevistas semiestruturadas com familiares indicados pelas gerentes aposentadas. As participantes foram escolhidas utilizando-se a técnica de “bola de neve” (snowball sampling) e o critério de acessibilidade. O processo de análise dos dados consistiu em produzir sentidos a partir dos dados coletados, utilizando-se a análise de conteúdo. Com a análise dos dados destacou-se que o trabalho de fato representava papel central na vida das gerentes aposentadas e que por isso a aposentadoria representou uma tentativa de reconstrução de sua identidade. Entretanto isso não ocorreu, pois, dada a importância do trabalho na vida das entrevistadas, elas não pararam de trabalhar após sua aposentadoria, mesmo que em atividades diferentes das quais estavam acostumadas a exercer. Diante disso, os familiares afirmaram não notar mudanças significativas no comportamento das ex-gerentes após aposentadoria, visto que elas continuaram trabalhando de alguma forma. Eles afirmaram também que notaram nas aposentadas a necessidade de reconstruir seus ciclos sociais após a aposentadoria, e que por isso elas procuravam novas ocupações fora de casa. |