| Resumo |
A perda de biodiversidade e as mudanças no uso da terra afetam comunidades de invertebrados e suas funções ecossistêmicas essenciais para florestas tropicais, como a decomposição da matéria orgânica. Florestas plantadas, como as de eucalipto, têm aumentado para atender a demanda por madeira. Estas florestas são muito homogêneas em comparação às nativas, o que pode afetar a disponibilidade de microhabitats essenciais para invertebrados. O objetivo deste estudo foi comparar a disponibilidade e diversidade de microhabitats arbóreos e de madeira morta entre uma floresta nativa (Mata Atlântica) e floresta de eucalipto — para identificar possíveis diferenças que possam afetar as comunidades de invertebrados. Realizamos um inventário florestal e de microhabitats em parcelas de 1 hectare, uma em Mata Atlântica na Mata do Paraíso, Viçosa, e outra em plantação de eucalipto em Coimbra, MG. Utilizamos o método de Bitterlich de amostragem por ângulos fixos para estimar a área basal das florestas e registrar árvores vivas e madeira morta em pé em três pontos dispostos em triângulo de 50 metros ao redor do centro da parcela. Entre esses pontos, percorremos transectos de 50 metros para quantificar madeira morta caída e registramos a morfoespécie, comprimento, diâmetro, estágio de decomposição e exposição solar das madeiras encontradas. Registramos nas árvores inventariadas a presença de microhabitats arbóreos — como rachaduras em cascas, fungos, lianas, bromélias e galhos quebrados — e estimamos a cobertura vegetal do sub bosque em cada ponto. Na Mata Atlântica, encontramos 27 tipos de microhabitats e o dobro de microhabitats por árvore em relação ao eucaliptal, com apenas 9 tipos. A Mata Atlântica também apresentou microhabitats importantes e de preferência para os invertebrados, como cavidades derivadas de decomposição. Observamos um volume médio de madeira morta caída superior na Mata Atlântica (1,902 m³/transecto) em relação ao eucaliptal (0,225 m³/transecto). O eucaliptal apresentou uma estrutura florestal mais homogênea, o que pode limitar a diversidade e funcionalidade dessas comunidades. Os resultados mostram que a Mata Atlântica apresenta mais diversidade e disponibilidade de microhabitats do que o eucaliptal, o que provavelmente suporta comunidades de invertebrados decompositores mais ricas e abundantes. A simplificação de ecossistemas em florestas plantadas pode causar maior competição por recursos, potencial redução do tamanho das populações, menor riqueza de espécies e consequentemente, redução na ciclagem de nutrientes. Este trabalho reforça a importância da conservação de florestas nativas para a sustentação da biodiversidade e para a manutenção de processos ecológicos essenciais aos ecossistemas diante de distúrbios. |