| Resumo |
O presente trabalho tem como objetivo relatar o caso de uma paciente canina, 14 anos, da raça Boxer, admitida no setor de emergência do Hospital Veterinário da UFV com queixa de dispneia grave. A paciente apresentava estertores e abafamento dos campos pulmonares, além de hipoxemia acentuada [Saturação periférica de oxigênio (SpO₂): 89%]. Para estabilização inicial, foi administrada oxigenoterapia e sedação com butorfanol (0,4 mg/kg/IV). Ao exame TFAST, não foram observadas linhas B significativas, mas o deslizamento pleural não estava visível de forma evidente. O exame radiográfico de tórax revelou pneumotórax grave em ambos os hemitórax. O pneumotórax é caracterizado pelo acúmulo de ar na cavidade pleural, o que compromete a pressão negativa intrapleural, essencial para a expansão pulmonar. Essa alteração pode provocar colapso pulmonar e insuficiência respiratória. A condição pode ser classificada com base no estado do tórax (aberto ou fechado), na etiologia (traumático, espontâneo ou iatrogênico) e na progressão (simples ou hipertensivo). Após toracocentese bilateral, houve melhora do padrão respiratório e da saturação de oxigênio. No entanto, a paciente continuou produzindo pneumotórax, sendo necessárias drenagens seriadas até a realização da inserção de dreno torácico. O protocolo anestésico de indução incluiu midazolam (0,25 mg/kg/IV), fentanil (5 mcg/kg/IV) e propofol (2 mg/kg/IV). A paciente foi intubada e mantida sob oxigenoterapia e infusão contínua de propofol (0,1–0,2 mg/kg/min/IV). Para anestesia regional, realizou-se bloqueio intercostal em quatro pontos com lidocaína a 1% e ropivacaína a 0,37% (volume: 0,1 mL/kg/ponto). Durante o acesso ao espaço pleural para a inserção do dreno, a paciente apresentou hipoxemia grave, com SpO₂ atingindo 55%, prontamente revertida após a drenagem do pneumotórax. Na recuperação, a paciente manteve produção contínua de ar na cavidade pleural, exigindo a conexão do dreno a um sistema de sucção contínua. Esse quadro é característico do pneumotórax hipertensivo, no qual o acúmulo progressivo de ar exerce pressão crescente sobre as estruturas intratorácicas. Diante do quadro clínico, a principal suspeita diagnóstica é a presença de bolhas pulmonares que podem ter se rompido após um possível trauma, criando uma comunicação entre a superfície alveolar e o espaço pleural. A paciente permaneceu com o dreno torácico por seis dias, sendo dois deles sob sucção contínua. Após a retirada do dreno, ainda foram necessárias toracocenteses em episódios de agitação e dispneia. Houve melhora clínica progressiva, com reestabelecimento da pressão negativa pleural e alta médica 12 dias após a admissão, com resolução do quadro respiratório. Este relato evidencia a importância do manejo emergencial do pneumotórax hipertensivo, bem como da monitoração contínua até sua resolução, incluindo sedação para contenção, oxigenoterapia, toracocentese e inserção de dreno torácico. |