| Resumo |
Com o aumento previsto da área irrigada no Brasil, a pressão sobre os recursos hídricos tende a se intensificar, especialmente em regiões como a bacia do rio das Mortes, no Estado do Mato Grosso, onde já existem conflitos pelo uso da água. Esse cenário exige estudos sobre a disponibilidade hídrica para orientar uma gestão sustentável e equilibrada da água, de modo que o objetivo do presente trabalho foi estimar a disponibilidade hídrica superficial, avaliar a sazonalidade das vazões e quantificar as outorgas nas sub-bacias da região. Foram utilizados dados de 480 estações fluviométricas e 862 pluviométricas, obtidos da Rede Hidrometeorológica Nacional. Após a análise da consistência das séries históricas, foram selecionadas 59 estações fluviométricas e 225 pluviométricas. A estimativa das vazões mínimas (Q95) e médias de longa duração (Qmld) foi feita com base em dados observados, e sua espacialização foi realizada por meio de modelos de regressão regional ajustados com base nas regiões hidrologicamente homogêneas (RHHs), definidas pelas características físicas e climáticas das bacias. Para isso, foi utilizado o método tradicional de regionalização de vazões, com regressões lineares e potenciais, avaliadas estatisticamente por coeficientes de determinação e da média dos valores absolutos dos resíduos. Adicionalmente, a precipitação média anual foi espacializada pelo método de Krigagem Ordinária. A delimitação das áreas de drenagem foi realizada com modelo digital de elevação hidrograficamente condicionado (MDEHC), obtido a partir de dados SRTM e ajustado com a hidrografia oficial da ANA. A análise da disponibilidade hídrica considerou a relação entre a Q95 e as vazões outorgadas extraídas do SIGA Hídrico (SEMA-MT), com classificação em quatro faixas de comprometimento. Para avaliar o potencial de aumento da disponibilidade hídrica considerando a sazonalidade, foram estimadas as vazões Q95 em bases mensal, quadrimestral e semestral. Comparações com a Q95 anual permitiram calcular diferenças relativas (DH). Os resultados indicaram variações significativas entre as Q95 sazonais e a anual, evidenciando que a adoção de critérios sazonais pode ampliar a disponibilidade hídrica em determinados períodos. As maiores diferenças ocorreram no semestre chuvoso, sugerindo margem para flexibilização das outorgas. Conclui-se que a análise sazonal é uma estratégia viável para otimizar a alocação de água e mitigar conflitos pelo uso. |