| Resumo |
Nos ecossistemas aquáticos, o tipo de substrato desempenha um papel importante na estruturação das populações bentônicas, influenciando os padrões de abundância, distribuição e estado fisiológico. Avaliamos como a condição fisiológica de Procambarus clarkii é influenciada pelo substrato e pelo sexo em um lago de altitude nos Andes, na Colômbia. A amostragem foi realizada mensalmente durante um ano, abrangendo três tipos de substrato: pedra, matéria orgânica e argila. Os indivíduos foram capturados com armadilhas com isca e levados ao laboratório para a obtenção de dados morfométricos. A abundância e a proporção sexual por substrato foram avaliadas, enquanto a condição fisiológica foi estimada usando o índice de condição relativa (Kn). No total, foram registrados 1.202 indivíduos: 750 em substrato de pedra (62,5%), 332 em matéria orgânica (27,6%) e 120 em argila (9,9%). A abundância diferiu significativamente entre os substratos (Qui-quadrado χ² = 512,95; gl = 2; p < 0,001), com o substrato rochoso sendo o mais ocupado. Esse padrão sugere uma preferência de P. clarkii por habitats com maior complexidade estrutural, possivelmente devido à maior oferta de abrigo e recursos tróficos. As proporções de sexo variaram entre os substratos. Na pedra, houve uma predominância significativa de machos (59,1%; p < 0,001; 95% CI 55,5-62,6%), indicando um viés sexual. Na matéria orgânica (54,5% de machos) e na argila (50,8% de machos), a proporção entre os sexos não diferiu da proporção esperada de 1:1 (p = 0,111 e p = 0,927, respectivamente). Esses resultados sugerem que os substratos rochosos podem oferecer alguma vantagem, possivelmente relacionada à territorialidade entre os machos. A ANOVA multifatorial revelou diferenças no Kn entre o sexo (F₁,₁₁₁₁₉₄ = 245,74; p < 0,001) e o substrato (F₂,₁₁₁₉₄₄ = 26,51; p < 0,001). As estações do ano não tiveram efeito significativo (F₂,₁₁₁₁₉₄ = 0,59; p = 0,557), mas houve uma interação entre sexo e substrato (F₂,₁₁₁₉₄₄ = 3,42; p = 0,033). Os machos apresentaram valores de Kn consistentemente mais altos do que as fêmeas (diferença média = 0,104), especialmente em substrato rochoso (diferença = 0,109). Foi observado um gradiente de Kn entre os substratos (rocha > matéria orgânica > argila; p < 0,001), que foi mais pronunciado nos machos. Nas fêmeas, a diferença só foi significativa entre rocha e argila (p = 0,044), sugerindo menor sensibilidade à variação do habitat. Os resultados indicam que os machos respondem positivamente a substratos estruturados, possivelmente porque investem menos energia na reprodução e mais no crescimento e na defesa. As fêmeas, por outro lado, com Kn mais baixo em todos os substratos, podem estar sujeitas a custos energéticos mais altos associados à reprodução, que nesse ecossistema pode estar ocorrendo várias vezes por ano, exigindo um investimento energético maior na geração de gametas do que na automanutenção. |