| Resumo |
Introdução: O cuidado centrado na pessoa tem se fortalecido nas políticas de saúde reprodutiva, com ênfase na autonomia e na personalização dos métodos contraceptivos. Nesse contexto, os Métodos Baseados na Percepção da Fertilidade (MBPF) ganham destaque por não envolverem hormônios, promoverem o autoconhecimento e permitirem maior controle sobre o próprio corpo. Esses métodos envolvem a observação diária de sinais corporais como muco cervical, temperatura basal e hormônios urinários, podendo ser usados isoladamente ou combinados, com ou sem métodos complementares durante o período fértil. Objetivos: caracterizar o perfil sociodemográfico e de saúde de mulheres em idade fértil usuárias dos MBPF, além de compreender suas percepções sobre os métodos. Metodologia: Trata-se de um estudo transversal com abordagem mista, utilizando técnicas quantitativas e qualitativas. A amostra foi composta por 275 mulheres das regiões Sul e Sudeste do Brasil, recrutadas por amostragem bola de neve. Foram calculadas frequências absolutas e relativas para as variáveis sociodemográficas, de saúde e comportamentais, além da aplicação do teste qui-quadrado de aderência. A análise quantitativa foi realizada com o software R (versão 4.4.1) e a análise qualitativa seguiu a técnica de análise de conteúdo temática, segundo Bardin. Resultados: As participantes eram, majoritariamente, mulheres entre 25 e 34 anos, brancas, com ensino superior e em relacionamento conjugal. Os MBPF mais utilizados foram o método Billings (22,5%) e a combinação entre tabelinha e observação do muco cervical (22,5%). A maioria das mulheres (61,3%) declarou ter conhecimento suficiente sobre os métodos e 80% não desejavam engravidar no momento. Cerca de 92% relataram satisfação com o uso dos MBPF. Os relatos qualitativos revelaram que, além da função contraceptiva, os MBPF são valorizados por proporcionarem autoconhecimento, autonomia, conexão com a ciclicidade do corpo, liberdade, saúde e empoderamento. As participantes expressaram uma busca por maior qualidade de vida, evitando o uso de hormônios e promovendo um vínculo mais consciente com a saúde reprodutiva. Conclusões: os MBPF representam uma alternativa viável, de baixo custo, que fortalece a autonomia feminina e o direito à escolha, alinhando-se aos princípios dos direitos sexuais e reprodutivos. Tais métodos têm potencial de integração às políticas públicas de saúde no contexto do Sistema Único de Saúde (SUS), contribuindo para uma abordagem mais humanizada e centrada nas necessidades das usuárias. |