| Resumo |
Ensinar o gênero dissertativo-argumentativo no Ensino Médio configura-se como um desafio complexo, que exige do professor uma abordagem multidimensional e reflexiva sobre o ensino da escrita. A produção desse tipo textual requer mais do que o domínio das normas gramaticais: implica mobilizar repertório sociocultural, desenvolver o pensamento crítico e compreender as especificidades estruturais e discursivas do gênero. Entretanto, observa-se que muitos estudantes enfrentam dificuldades significativas na construção desse tipo de texto, desde a formulação de uma tese clara até a elaboração de argumentos consistentes, além da adequada utilização da linguagem formal.Diante desse cenário, o presente projeto teve como objetivo investigar os principais entraves enfrentados por estudantes do 2º ano da Escola Estadual Raul de Leoni na produção de textos dissertativo-argumentativos. A intenção foi superar uma perspectiva prescritiva centrada exclusivamente na correção de erros, buscando compreender as causas dessas dificuldades e experimentar estratégias de ensino mais eficazes, ancoradas em fundamentos teóricos e na prática pedagógica.Entre os principais problemas diagnosticados, destaca-se a fragilidade na estruturação textual. Muitos alunos não conseguem estabelecer uma tese definida, o que compromete a progressão argumentativa e a articulação lógica das ideias. Conforme Koch e Elias (2018), essa limitação está relacionada à escassa vivência em práticas de leitura e escrita que valorizem a argumentação e a reflexão crítica. A ausência de um trabalho contínuo com os elementos composicionais do gênero agrava ainda mais essas dificuldades.Outro ponto crítico diz respeito à superficialidade da argumentação. Em geral, os estudantes apresentam opiniões genéricas, desprovidas de fundamentação teórica ou empírica, demonstrando dificuldade em acionar conhecimentos prévios e em relacionar o tema discutido a questões sociais, históricas e culturais. Essa lacuna evidencia a necessidade de ampliar o repertório argumentativo dos alunos, por meio do contato com diferentes gêneros textuais e do debate de temas contemporâneos.As dificuldades linguísticas também persistem, especialmente no que se refere à coesão textual, à concordância e à pontuação. Esses aspectos revelam uma abordagem gramatical fragmentada, desvinculada da produção textual, o que compromete a construção de textos coesos e coerentes. Ademais, práticas pedagógicas centradas apenas na correção posterior dos textos mostram-se insuficientes. Como aponta Antunes (2009), essa abordagem impede que o aluno reflita criticamente sobre os mecanismos linguísticos que operam na construção do discurso.Dessa forma, torna-se necessário adotar metodologias que articulem leitura, produção orientada, reescrita e intervenção docente contínua. Um ensino que promova a análise de textos-modelo e estimule a reflexão metalinguística pode contribuir significativamente para o desenvolvimento da competência argumentativa. |