| Resumo |
A osteomielite é definida como processo inflamatório ósseo que envolve os espaços haversianos, os canais de Volkmann e, geralmente, a cavidade medular e o periósteo. Pode ocorrer infecção de origem hematógena, traumática ou iatrogênica. Os agentes causadores mais envolvidos são as bactérias, ocasionalmente fungos e raramente protozoários e vírus. A osteomielite de ossos da pelve é rara e desafiadora quanto ao tratamento clínico. Objetiva-se relatar o caso de um paciente canino macho, 11 anos, da raça Yorkshire. O paciente foi atendido no Hospital Veterinário da UFV com quadro de prostração, dor intensa na região glútea/coxofemoral, claudicação intensa e impotência funcional do membro pélvico direito. A tutora relatou que, dois meses antes, o animal foi submetido à correção de hérnia perineal direita em outro serviço, com identificação de próstata e bexiga como estruturas herniadas e utilização de tela de polipropileno associada à colopexia, deferentopexia e orquiectomia. Desde então, o paciente apresentava dor e alterações locomotoras. Ao exame físico, os parâmetros fisiológicos estavam preservados, mas foi possível observar aumento de volume na região perineal esquerda. Ao exame ortopédico observou-se claudicação intermitente e cauda constantemente abaixada, além de dor intensa à palpação glútea direita, sem permitir movimentos de abdução, adução ou hiperextensão. O exame neurológico revelou hiperpatia caudal, reflexos espinhais aumentados e déficit de propriocepção em membro pélvico direito. Exame radiográfico de pelve evidenciou lise óssea do tipo “roído de traça” na tábua do ísquio direito, com destruição cortical, sendo as imagens compatíveis com lesão óssea agressiva, tendo como principais diferenciais osteomielite ou neoplasia. Prescreveu-se dipirona, tramadol, gabapentina e prednisolona em dose antiinflamatória e, realizou-se biópsia óssea da tábua do ísquio direito, com coleta de fragmentos para cultura, antibiograma e histopatologia. A cultura revelou infecção por Pseudomonas aeruginosa, e o laudo histopatológico confirmou osteomielite/periostite neutrofílica e linfoplasmocitária com fibroplasia crônico-ativa moderada. O tratamento instituído incluiu marbofloxacina (2,75 mg/kg/SID) e amoxicilina com clavulanato (20 mg/kg/BID), ambos utilizados por 60 dias. O uso contínuo de gabapentina (10 mg/kg TID) foi mantido como coadjuvante analgésico. Após 60 dias de tratamento clínico, o paciente apresentou melhora clínica expressiva, sem dor à manipulação superficial ou profunda da região glútea, ausência de alterações neurológicas e recuperação completa da marcha. Trata-se de um caso incomum de osteomielite pélvica relacionada à contaminação por possível translocação bacteriana devido à processo inflamatório causado por tela sintética, destacando-se a importância do diagnóstico precoce, da biópsia com cultura para definição terapêutica e da monitorização cuidadosa no pós-operatório frente a sinais persistentes de dor e claudicação. |