| Resumo |
A crescente demanda por água, impulsionada pela expansão agrícola, urbanização e mudanças climáticas, tem levado à busca por fontes alternativas. O reuso de efluentes tratados de estações de tratamento de esgoto (ETE) é uma alternativa estratégica para irrigação agrícola, relacionando a conservação de recursos à segurança sanitária. Diretrizes como a IRdA 2025 (Instrução para Reuso Direto Agrícola 2025), a Resolução CNRH nº 54/2005 e a USEPA (United States Environmental Protection Agency, 2012) estabelecem modalidades, diretrizes e critérios gerais para a prática de reuso da água de ETEs, incluindo limites de DBO, pH, SST (Sólidos Suspensos Totais), CRT (Cloro Residual Total) e CTer (Coliformes Termotolerantes). Este estudo teve por objetivo avaliar a aptidão dos efluentes de três ETEs do município de Manhuaçu‑MG para irrigar culturas não alimentícias (pastagens, forrageiras, cereais, fibras e grãos). Com base nos dados de monitoramento do SAAE (Serviço Autônomo de Água e Esgoto) para as ETEs durante campanhas amostrais no ano de 2024 avaliou-se a aptidão dos efluentes para reuso agrícola das mesmas. A ETE Alphaville foi projetada para atender uma população de 1.200 pessoas, com vazão de 1,8 L/s, sendo o sistema de tratamento composto por gradeamento, desarenador e caixa de gordura para a remoção inicial. Em seguida, o efluente recebe tratamento biológico por meio de reator UASB e biofiltro aerado submerso, finalizando no reator eletrolítico Oxiflow. Já a ETE Morada do Campo atende aproximadamente 1.320 pessoas, com vazão de 2 L/s. O sistema de tratamento é composto por gradeamento, desarenador, estação elevatória e sistema de lodos ativados em batelada. Os resultados indicaram que o esgoto tratado da ETE Alphaville apresentou valores médios de DBO = 22,4 mg L⁻¹, pH 6,63 e SST 34 mg L⁻¹; enquanto que para a ETE Morada do Campo, os valores foram de DBO = 31,7 mg L⁻¹ e pH 6,03. Ambas atendem aos limites para culturas alimentícias da USEPA (DBO ≤ 30 mg L⁻¹ e pH 6–9), mas excedem o limite de SST ≤ 30 mg L⁻¹ para culturas não alimentícias. Por outro lado, a ETE Clube do Sol apresentou SST adequada (12 mg L⁻¹), porém DBO elevada (110,6 mg L⁻¹) e pH 6,73. Para esse tipo de irrigação é requerido o tratamento secundário seguido de desinfecção; assim como o monitoramento da qualidade do efluente em termos de CRT e CTer. Algumas alternativas são previstas para a melhor adequação, tais como: (i) filtração de polimento para reduzir SST, (ii) desinfecção por cloração ou radiação ultravioleta, (iii) medidores de vazão para dimensionamento do sistema de irrigação e (iv) monitoramento microbiológico contínuo com vistas ao aprimoramento operacional das ETEs, em especial na remoção de DBO. O reuso do efluente promoveria a redução de pressão sobre mananciais e o consumo de fertilizantes, contribuindo para a segurança hídrica regional, e incentivando a prática de sustentabilidade na comunidade, aliada ao reuso de água e investimento na agricultura. |