| Resumo |
A indústria do cimento responde por aproximadamente 7% das emissões globais de CO₂, devido à produção intensiva de clínquer, especialmente em países como China, Índia e Brasil. Frente aos compromissos climáticos globais, como a Agenda 2030 da ONU, que visa reduzir significativamente as emissões até 2030, há um esforço internacional por alternativas de baixo carbono. O cimento LC³ (Limestone Calcined Clay Cement), composto por argila calcinada, calcário e clínquer, tem ganhado destaque por reduzir emissões sem comprometer o desempenho mecânico. No entanto, sua aplicação ainda enfrenta desafios relacionados à reologia, devido à presença de argilas, que afetam negativamente a trabalhabilidade das misturas. Diante disso, este trabalho tem como objetivo realizar uma revisão sistemática da literatura sobre a reologia de cimentos LC³, buscando compreender os mecanismos que afetam suas propriedades em estado fresco e orientar estratégias para otimização do seu desempenho. A metodologia adotada envolveu a seleção de artigos publicados nos últimos cinco anos, com busca na base Scopus, utilizando os termos calcined clay, LC3, cement e rheology. Foram selecionados 101 estudos relevantes que abordam aspectos como a morfologia das partículas, a floculação das argilas, o empacotamento compressível, o potencial zeta, a interação com aditivos superplastificantes e os efeitos de intercalação. Os resultados indicam que o principal fator responsável pela perda de trabalhabilidade nas misturas com LC3 é a alta área superficial das argilas calcinadas. Isso ocorre porque as argilas mais reativas e recomendadas para o uso no LC3, como as ricas em caulinita, apresentam estrutura lamelar, superfície rugosa e elevada área específica, o que aumenta significativamente a demanda por água e aditivos para dispersão. Além disso, a tendência de floculação das partículas e a redução do potencial zeta intensificam as interações entre as partículas, promovendo aglomerações que reduzem a fluidez do sistema. Esses efeitos são agravados por fatores como o pH da solução, a presença de íons como o cálcio e o tipo de aditivo superplastificante utilizado. Diante dos desafios reológicos identificados, este estudo mostra que há caminhos promissores para viabilizar tecnicamente o uso do LC3 em escala industrial. Estratégias como o controle rigoroso das condições de calcinação da argila, a moagem otimizada dos materiais, o desenvolvimento de superplastificantes específicos para sistemas com argila calcinada e a substituição parcial por resíduos industriais podem mitigar os efeitos negativos sobre a trabalhabilidade. Pesquisas futuras devem priorizar o aperfeiçoamento dessas soluções para garantir desempenho técnico adequado e permitir a adoção em larga escala de cimentos de baixo carbono na indústria da construção. |