| Resumo |
A vegetação dos Campos Rupestres Ferruginosos (CRF) está diretamente ligada às condições do solo e suas variações internas. Isso resulta na formação de diversos micro-habitats que junto com outros fatores edáficos selecionam espécies com adaptações favoráveis e eleva o endemismo nessas áreas. Esses ecossistemas possuem uma alta diversidade ambiental e relevante importância ecológica, porém pouco se sabe sobre os fatores responsáveis pela formação dos geoambientes na Serra de Campos, um remanescente de CRF em bom estado de conservação. Dessa forma, o presente trabalho buscou avaliar a influência das propriedades químicas e físicas do solo nos diferentes geoambientes da Serra de Campos. O estudo ocorreu em um platô de Campo Rupestre Ferruginoso no município de São Félix de Xingú, Pará. Os Geoambientes selecionados foram Capão (CAP), Campo Rupestre Ferruginoso Aberto (CRA) e Campo Rupestre Ferruginoso Graminoso (CRG). Foram estabelecidas 60 parcelas, sendo 20 parcelas para cada geoambiente. As parcelas de CRG, com 2 m x 2 m; de CRA, com 5 m x 5 m; e de CAP com 10 m x 10 m. Em cada uma, foram coletadas amostras de solo superficiais e estimada a profundidade relativa do solo. As amostras foram secas ao ar, maceradas e peneiradas para obtenção da terra fina seca ao ar (TFSA). Posteriormente passaram por análises químicas e físicas, os resultados foram filtrados por análise de correlação inferior à 0,7 e submetidos à Análise de Componentes Principais (PCA). A variância total explicada pelos dois primeiros eixos da PCA foi de 46,9%. O Eixo 1 é responsável por 25,2% da variância e influenciado principalmente por profundidade do solo, alumínio trocável (Al³⁺) e saturação por alumínio (m). O Eixo 2 explicou 21,7% da variância, influenciado por sódio (Na⁺), cálcio (Ca²⁺) e matéria orgânica (MO). As parcelas de CAP sugerem associação com solos mais profundos, com menores teores de Al³⁺ e maior acúmulo de MO e Ca²⁺. As parcelas de CRA ocuparam posição intermediária na PCA, com solos de profundidade moderada, níveis elevados de Al³⁺, mas boa disponibilidade de cátions. Já o CRG apresentou solos extremamente rasos, ácidos, com alta saturação por Al³⁺, alto teor de areia grossa, baixos teores de fósforo remanescente, Ca²⁺ e MO. Solos mais profundos favorecem o desenvolvimento de uma vegetação florestal mais densa, com árvores de grande porte e maior diversidade florística. Enquanto solos moderados presentes em CRA são dominados por vegetação arbustiva e subarbustiva, com estrutura mais aberta. E solos extremamente rasos apresentaram vegetação predominantemente herbácea, com domínio de gramíneas adaptadas a ambientes oligotróficos e baixa retenção de nutrientes. Esses resultados mostram a relação entre a estrutura do solo e a vegetação, distinguindo os geoambientes com base em variáveis edáficas, o que ressalta o papel central do solo na estruturação da vegetação dos Complexos Rupestres da Amazônia. |