| Resumo |
Introdução: O consumo de alimentos ultraprocessados (UPP), definidos como formulações industriais nutricionalmente desequilibradas, tem sido associado à obesidade e a alterações na saúde intestinal. Objetivo: Avaliar a relação entre o consumo de UPP e a saúde intestinal em adultos com sobrepeso e obesidade. Metodologia: Estudo transversal baseado nos dados basais da fase 3 do Estudo Castanhas Brasileiras, aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da UFV (N˚ 4.543.541/CEPH) e registrado no ReBEC (RBR-8xzkyp2). Participaram 70 adultos com sobrepeso ou obesidade (32,9 ± 4,3 kg/m²), sendo 57% do sexo feminino (n=40). O consumo alimentar foi obtido por recordatório 24 horas e classificado de acordo com a NOVA. Os participantes foram alocados em tercis de acordo com a proporção de calorias oriundas de UPP em relação à taxa metabólica basal (TMB): tercil 1 (T1) ≤ 7,65%; tercil 2 (T2) entre 7,65 e 47,48%; e tercil 3 (T3) ≥ 47,49%. A TMB foi obtida por meio da bioimpedância elétrica (InBody 230). A permeabilidade intestinal foi avaliada pela concentração de zonulina e proteína ligadora de lipopolissacarídeos (LPB) por meio de kits ELISA. A razão lactulose/manitol (L/M) foi realizada através da administração oral dos açúcares, com posterior análise urinária por HPLC. Analisou-se o pH fecal e os ácidos graxos de cadeia curta (AGCC) ácido acético, propiônico e butírico, por meio da amostra de fezes. A normalidade das variáveis foi avaliada por meio da análise de assimetria, curtose, gráficos e teste de Kolmogorov-Smirnov e as comparações entre os tercis por meio de ANOVA one-way. Para as variáveis que não apresentaram homocedasticidade, aplicou-se a correção de Welch. Foi utilizado o post-hoc de Bonferroni para identificar os grupos que diferiram, adotando-se um nível de significância de 5% (p < 0,05). Resultados: O T3 apresentou maior consumo calórico total quando comparado aos demais (1196,5 ± 442,2 vs. 1362,2 ± 423,3 vs. 1764,3 ± 606,4). O T2 evidenciou maior zonulina em comparação ao T1 (7,1 ± 5,9 vs. 15,1 ± 10,9), maior ph fecal em relação ao T3 (7,4 ± 0,6 vs. 6,8 ± 0,7) e menor ácido acético quando comparado aos demais (0,0016 ± 0,0008 vs. 0,0010 ± 0,0005 vs. 0,00151 ± 0,00043). O ácido propiônico foi maior no T1 em comparação com os demais (0,0009 ± 0,0004 vs. 0,0006 ± 0,0003 vs. 0,0008 ± 0,0003). Verificou-se menor ácido butírico no T2 em relação ao T3 (0,0005 ± 0,0002 vs. 0,0006 ± 0,0003). Não houve diferença estatística nos marcadores LPB e razão L/M. Conclusão: Os valores de zonulina e ácido acético e propiônico dos participantes com baixo consumo de UPP, em relação aos participantes com consumo moderado, sugere possível relação inversa entre consumo de UPP e saúde intestinal. Os resultados divergentes dos participantes com elevada ingestão de UPP podem estar relacionados a outros fatores dietéticos ou não controlados. Estudos adicionais são necessários para elucidar a interação entre UPP e saúde intestinal. |