| Resumo |
Em uma realidade de crise socioambiental, impulsionada pela perda da biodiversidade, aumento da insegurança alimentar e agravamento das mudanças climáticas, os sistemas agroflorestais (SAFs) emergem como alternativas para produção resiliente e conservação dos ecossistemas. A avaliação da sustentabilidade de SAFs tradicionalmente prioriza indicadores técnicos, negligenciando o conhecimento local e a multidimensionalidade desses sistemas. Este trabalho, desenvolvido com agricultores da Zona da Mata Mineira, teve como objetivo co-criar e validar etnoindicadores participativos para avaliação sistêmica de SAFs, abordando simultaneamente dimensões ecológicas, produtivas e sociais. Utilizou-se a metodologia "Café do Mundo" em um seminário com mais de 50 participantes (agricultores, técnicos e pesquisadores),realizado no Centro de Tecnologias Alternativas da Zona da Mata (CTA), que identificaram coletivamente quatro eixos temáticos: (1) biodiversidade (diversidade de espécies, presença de fauna e flora nativa…); (2) produção e saúde das plantas (vigor foliar, resistência a pragas, produtividade…); (3) aspectos socioeconômicos (mutirões, diversificação de renda, sensação de pertencimento…); e (4) qualidade ambiental do solo, da água e do ar (serrapilheira, infiltração hídrica, presença de líquens…). Posteriormente, os indicadores foram aplicados em um intercâmbio agroecológico, onde agricultores avaliaram o SAF em uma propriedade no Córrego Vargem Grande, Zona Rural, Divino - MG, demonstrando sua praticidade para o monitoramento cotidiano. Os resultados revelaram que os etnoindicadores capturam relações complexas, como a associação entre saúde das plantas e saúde humana, e fortaleceram a autonomia das comunidades na gestão dos agroecossistemas. Além disso, promovem simultaneamente a conservação da agrobiodiversidade, a segurança alimentar e a adaptação climática (através de indicadores como "infiltração hídrica" e "resiliência a pragas"), enquanto fortalecem a coesão social (via "mutirões" e "convivência intergeracional"). Conclui-se que a abordagem participativa não apenas gera indicadores contextualizados, mas também evidencia o papel dos SAFs como estratégia multifuncional para enfrentar desafios socioambientais contemporâneos, integrando produção sustentável, justiça social e regeneração ecológica. Tal abordagem participativa, da construção à aplicação dos indicadores, é eficaz para avaliar a sustentabilidade de SAFs de forma contextualizada, integrando saberes locais e científicos e promovendo a transição agroecológica. |