Das Montanhas de Minas ao Oceano: Os Caminhos da Ciência para um Futuro Sustentável

20 a 25 de outubro de 2025

Trabalho 22106

ISSN 2237-9045
Instituição Universidade Federal de Viçosa
Nível Graduação
Modalidade Pesquisa
Área de conhecimento Ciências Humanas e Sociais
Área temática Dimensões Ambientais: ODS13
Setor Departamento de Ciências Sociais
Bolsa Não se Aplica
Conclusão de bolsa Não
Primeiro autor Marco Antonio Almeida Cardozo
Orientador MARISA BARBOSA ARAUJO
Título Memórias de um território inundado: enchentes, cotidiano e afetos.
Resumo Este trabalho propõe uma análise antropológica das enchentes no bairro Elizabeth, localizado no município de Rio das Flores (RJ), buscando compreender seus efeitos e afetamentos tanto no plano material quanto simbólico. A partir de entrevistas com moradoras diretamente impactadas pelas inundações causadas pelo transbordamento do córrego Manuel Pereira, o trabalho investiga como esses eventos climáticos extremos moldam memórias, identidades, subjetividades e relações sociocomunitárias. Inserido no campo da antropologia dos desastres, o estudo parte do entendimento de que desastres não são apenas fenômenos naturais, mas processos sociais, históricos e politicamente mediados que incidem desigualmente sobre populações vulnerabilizadas. Sustentado por uma abordagem qualitativa e situada, centrada em entrevistas com mulheres, grupo que historicamente carrega maior sobrecarga durante e após os desastres, seja na gestão da casa, no cuidado com familiares ou na reconstrução da vida cotidiana. A escolha pelo recorte de gênero se justifica pelo protagonismo feminino nas redes de apoio e solidariedade que emergem diante das catástrofes, além da posição de maior vulnerabilidade estrutural que ocupam. Ao valorizar a escuta dessas vozes, a pesquisa revela como as enchentes afetam profundamente a constituição de laços comunitários, os modos de habitar e a relação afetiva com o território. A partir de um olhar situado e implicado - já que o autor é morador do bairro e experienciou diversas enchentes ao longo da vida -, a análise é atravessada por elementos subjetivos e afetivos que fortalecem a densidade etnográfica do estudo. A pesquisa compreende as enchentes não apenas como episódios traumáticos, mas também como acontecimentos estruturantes da memória coletiva local. Elas operam como marcos simbólicos que reorganizam o cotidiano, os afetos e os modos de vida de quem habita essas margens esquecidas pelo poder público. O trabalho articula categorias como Antropoceno, racismo ambiental, justiça climática e colapso socioambiental, demonstrando como o avanço do sistema capitalista - por meio da devastação ambiental, da urbanização desordenada e da ausência de políticas públicas - acentua a exposição de determinadas populações aos riscos ambientais. O bairro Elizabeth torna-se, então, um microcosmo das desigualdades ecológicas mais amplas, revelando que o impacto das enchentes é racializado, generificado e profundamente atravessado por dinâmicas de exclusão histórica. Por fim, se propõe que alternativas ecossociais só podem ser efetivamente pensadas a partir das margens. Isso implica ouvir os saberes locais, valorizar as práticas de cuidado e reconstrução comunitária e romper com a lógica centralizadora das políticas públicas. O trabalho não apenas documenta memórias submersas, mas também incita o debate de que, diante do colapso, o que resta não é o fim, e sim a possibilidade insurgente de reconstruir o mundo a partir de onde sempre se resistiu: das margens
Palavras-chave Antropologia dos desastres, Enchentes urbanas, Memória coletiva.
Forma de apresentação..... Painel
Link para apresentação Painel
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