| Resumo |
Introdução: As doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) são as principais causas de morte e incapacidade no mundo, afetando desproporcionalmente países de baixa e média renda. No Brasil, a prevalência dessas doenças é mais elevada entre mulheres, pessoas negras, com baixa escolaridade e menor acesso aos serviços de saúde. A transição epidemiológica contribuiu para esse cenário, com mudanças demográficas, nutricionais e socioeconômicas, resultando na predominância das DCNT entre os óbitos globais e nacionais. Diante disso, a ONU e o Ministério da Saúde estabeleceram metas para reduzir a mortalidade prematura por DCNT até 2030, por meio de ações de prevenção e promoção da saúde. Objetivo: Descrever as prevalências das principais DCNT (hipertensão arterial, diabetes e obesidade) autorreferidas, e suas respectivas tendências, na população adulta nas capitais brasileiras, no período de 2011 a 2019, segundo sexo e raça/cor. Metodologia: Estudo de série temporal, de base populacional e abordagem quantitativa, utilizando dados coletados pelo Sistema de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (VIGITEL), entre os anos de 2011 a 2019 de adultos residentes nas capitais brasileiras. Modelos de regressão linear foram utilizados para analisar a magnitude e a significância (p-valor < 0,05) das variações temporais no período estudado. As prevalências de DCNT foram os desfechos e os anos, as variáveis explicativas. O projeto Vigitel foi aprovado pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa para Seres Humanos (Conep) do Ministério da Saúde. Resultados: Entre 2011 e 2019, a obesidade apresentou tendência crescente e estatisticamente significativa entre adultos nas capitais brasileiras, com incremento anual médio de 0,43 pontos percentuais (pp) entre homens (p = 0,001), 0,46 pp entre mulheres (p = 0,002) e 0,60 pp entre pessoas negras (p = 0,003). As prevalências médias foram de 17,9% (IC95%: 17,51–18,30) nos homens, 18,2% (IC95%: 17,91–18,57) nas mulheres e 18,6% (IC95%: 18,30–18,96) entre indivíduos negros. Já quanto a hipertensão arterial e diabetes, não houve mudanças estatisticamente significativas, com prevalência média de 22% (IC95%: 21,6-22,4) em homens, 25,9% (IC95%: 25,5-26,2) em mulheres e 24% para brancos (IC95%: 23,6-24,4) e negros (IC95%: 23,7-24,4) para a primeira e 7,0% (IC95%: 6,7-7,2) em homens, 7,7% (IC95%: 7,5-7,9) em mulheres e 7,1% para negros (IC95%: 6,9-7,3), para a segunda. Conclusões: Conclui-se que entre os anos de 2011 e 2019 houve aumento significativo da obesidade na população adulta brasileira, principalmente entre as mulheres negras. A hipertensão arterial manteve-se estável durante o período e o diabetes não demonstrou significância estatística. Esses achados reforçam a necessidade de políticas públicas intersetoriais com foco na promoção da saúde e na redução das desigualdades sociais e raciais associadas às DCNT. |