| Resumo |
As neoplasias do trato gastrointestinal em cães são relativamente raras, com baixa incidência entre os tumores diagnosticados nessa espécie. Dentre elas, o adenocarcinoma é o tipo mais frequentemente identificado, com predileção pelo intestino grosso, especialmente o reto. Embora apresente crescimento lento, possui alta taxa de metástase, frequentemente acometendo linfonodos regionais, fígado, pulmões, pâncreas e baço. Os sinais clínicos incluem tenesmo, hematoquezia, diarreia, disquezia, perda de peso progressiva e anorexia. Apesar da variação nos relatos, a literatura indica maior ocorrência em cães machos e idosos. O diagnóstico definitivo requer abordagem multidisciplinar, envolvendo exame físico, exames laboratoriais, de imagem e confirmação histopatológica. Considerando a escassez de dados sobre os aspectos clínico-patológicos das neoplasias retais em cães, este trabalho objetiva relatar um caso de adenocarcinoma retal invasivo em uma cadela jovem, contribuindo para o conhecimento sobre essa condição. Uma cadela, da raça Husky Siberiano, com três anos de idade, foi atendida no Hospital Veterinário da Universidade Federal de Viçosa com histórico clínico de hiporexia, emagrecimento progressivo, diarreia, hematoquezia, disquezia e tenesmo, com evolução de aproximadamente três meses. Ao exame físico, observou-se algia à palpação retal, associada à presença de uma massa proliferativa no reto terminal, causando obstrução parcial do órgão. A ultrassonografia abdominal revelou linfonodos ilíacos mediais aumentados, medindo 3,64 × 1,27 cm, com ecotextura heterogênea e vascularização periférica à avaliação por Doppler colorido. Também foram visualizados múltiplos nódulos hepáticos, bem delimitados, com padrão em “alvo”, sugerindo lesões de natureza metastática. A citologia fecal demonstrou processo inflamatório supurativo, compatível com suspeita de carcinoma intestinal. A colonoscopia identificou lesão concêntrica estenosante em reto terminal, com mucosa irregular, friável, de coloração branco-acinzentada, ulcerada e hemorrágica, estendendo-se desde o canal anal até cerca de 4 cm do reto terminal. A análise histopatológica evidenciou proliferação neoplásica infiltrativa composta por células justapostas organizadas em um estroma fibrovascular discreto. As células apresentavam pleomorfismo celular e nuclear moderado, com mitoses frequentes. Observou-se ainda infiltrado inflamatório neutrofílico associado a extensa exsudação fibrinosa na superfície ulcerada da mucosa. O diagnóstico definitivo foi de adenocarcinoma retal invasivo. Diante do estágio avançado da enfermidade, optou-se inicialmente por tratamento paliativo, seguido de eutanásia diante da progressão do quadro clínico. Este caso ilustra a gravidade das neoplasias retais, mesmo em animais jovens, e reforça a importância de um diagnóstico precoce e abrangente. Embora pouco frequente, o adenocarcinoma retal é uma condição de evolução agressiva e de prognóstico reservado. |