| Resumo |
O ato de dar à luz, antes vivenciado dentro do espaço domiciliar, transformou-se em uma experiência do ambiente hospitalar, assim como, a assistência ao parto, antes protagonizada pelas parteiras, passou a ser adotada pelos médicos (Wolf; Waldow, 2008). Nessa transição, a hospitalização do parto contribuiu para a diminuição da taxa de mortalidade materna e neonatal, porém também tornou o nascimento desconhecido e amedrontador para muitas mulheres, visto a criação de instrumentos e ambientes capazes de desrespeitar e hostilizar seus direitos reprodutivos (Brasil, 2001; Oliveira; Penna, 2017). Nesse contexto, ao reconhecer a necessidade de tornar a assistência à saúde mais humana, a pesquisa tem como objetivo analisar a influência da hospitalidade, adotada através da hotelaria hospitalar, na experiência do parto. Para alcançar o objetivo proposto, adotou-se uma metodologia qualitativa interpretativista, que lançou mão de uma análise netnográfica na mídia social Instagram, por meio de postagens públicas identificadas como relato de parto, a fim de entender a relevância da hospitalidade durante a assistência ao parto sob a perspectiva das mulheres que experimentaram esse momento. A coleta de dados partiu da função de busca por hashtags, seguida da leitura e interpretação dos relatos resultantes conforme as quatro ações de hospitalidade (receber, hospedar, alimentar e entreter) propostas por Camargo (2003), publicados entre os anos de 2021 a 2024, contendo diferentes vias de parto e unidades de saúde. Dessa forma, 16 relatos foram considerados mais relevantes, pois apresentam foco nos aspectos percebidos pelas parturientes como a conduta dos profissionais de saúde, a infraestrutura hospitalar, os serviços de alimentação bem como a qualidade dos alimentos e as formas de entretenimento. Entre os resultados, os relatos evidenciam que, embora cada parto seja único, as sensações vividas pelas mulheres possuem sentimentos comuns, influenciados diretamente pelo acolhimento (ou ausência dele) durante a estadia hospitalar, as experiências marcadas por empatia, respeito e dedicação promovem conforto, segurança e preenchimento como a estrutura adequada e incentivos positivos durante os momentos de dor. Por outro lado, condutas negligentes, frias ou desrespeitosas geram sofrimento, insegurança e sensação de violência, como a falta de diálogo com a parturiente durante a preparação dos procedimentos cirúrgicos ou a privação alimentar anterior ao parto. Destarte, observa-se a necessidade das instituições de saúde de olharem para a hotelaria hospitalar e para hospitalidade com mais estima, como estratégias essenciais para humanizar o ambiente hospitalar. O investimento em infraestrutura adequada e capacitação das equipes torna possível transformar a experiência da parturiente em algo positivo, mesmo frente à dor ou procedimentos invasivos, impactando tanto na satisfação e acolhimento das pacientes quanto na melhoria das condições de trabalho para os profissionais. |