| Resumo |
Introdução: O vírus Mayaro (MAYV), um arbovírus endêmico na América do Sul, é o agente etiológico da Febre de Mayaro, doença febril aguda com dores articulares intensas e frequentemente incapacitantes que podem persistir por meses. Transmitido por mosquitos silvestres, o MAYV possui alarmante potencial de adaptação ao vetor urbano Aedes aegypti, representando um risco iminente de disseminação em grandes cidades e sobrecarga dos sistemas de saúde. Diante da ausência de terapias específicas, a prospecção de produtos naturais com atividade antiviral é uma estratégia essencial. Nesse cenário, o lúpulo (Humulus lupulus) destaca-se como fonte vegetal rica em fitoquímicos com bioatividade comprovada. Seus principais compostos, como o xanthohumol e os alfa- e beta-ácidos, já demonstraram notável espectro de ação em outros estudos, com atividade relatada contra importantes vírus de RNA e DNA, incluindo patógenos respiratórios como Influenza e o Vírus Sincicial Respiratório (RSV), diferentes membros da família Herpesviridae e, de forma relevante, outros arbovírus como o Chikungunya. A concentração dessas moléculas, contudo, varia drasticamente entre as cultivares de lúpulo, influenciando seu potencial terapêutico. Portanto, investigar a eficácia de extratos de diferentes cultivares contra o MAYV representa uma lacuna crítica. Objetivo: Este trabalho objetivou avaliar a citotoxicidade e a atividade antiviral de extratos etanólicos de quatro cultivares — Cascade, Comet, Magnum e Zeus — contra o MAYV. Metodologia e Resultados: A citotoxicidade dos extratos em células Vero foi determinada pelo ensaio de redução de resazurina, revelando perfis distintos. A Concentração Citotóxica 50% (CC50), estimada por regressão não linear pelo software GraphPad Prism, demonstrou a seguinte ordem de toxicidade crescente: Cascade (CC50=0,7617% v/v), Comet (CC50=0,5102%v/v), Magnum (CC50=0,2737%v/v) e Zeus (CC50=0,1287% v/v). Para avaliação da atividade antiviral, os extratos foram pré-incubados por 1h com 104 PFU/poço de MAYV, seguida de incubação por mais 1h com as células (MOI = 1). Após 48h, a análise microscópica revelou que, na concentração de CC50, os extratos de Magnum e Zeus foram capazes de reduzir os efeitos citopáticos causados pelo vírus, quando comparados com as células infectadas e sem tratamento. De forma ainda mais expressiva, na concentração de CC80, todos os quatro extratos foram capazes de preservar a monocamada celular. Conclusão: Os resultados promissores, em especial com Magnum e Zeus, motivam a continuidade do estudo. As perspectivas futuras incluem a determinação da potência (CE50) e seletividade (IS) antiviral, seguida por estudos fitoquímicos para o isolamento dos compostos ativos. Além disso, simulações de docking molecular serão empregadas para investigar as interações com alvos celulares e virais e o mecanismo de ação será investigado através de estudos in silico e in vitro. |