| Resumo |
A nutrição materna durante a gestação exerce influência determinante sobre o desenvolvimento e a funcionalidade do músculo esquelético da progênie, podendo desencadear adaptações estruturais e metabólicas persistentes ao longo do período pós- natal. Essas modificações refletem diretamente sobre a flexibilidade metabólica do músculo, definida como a capacidade do tecido em alternar eficientemente entre diferentes substratos energéticos em resposta às demandas fisiológicas. Esse processo envolve alterações coordenadas em vias como o metabolismo glicolítico, a oxidação de lipídios e a biogênese mitocondrial, possivelmente influenciando o desempenho produtivo do animal ao longo da vida. Este estudo teve como objetivo avaliar os efeitos de diferentes níveis de consumo de energia metabolizável (EM) materna durante o terço final da gestação sobre o desenvolvimento do músculo esquelético de bezerros de corte. Foram utilizadas 42 vacas Angus-Simental prenhes, sendo 21 primíparas e 21 multíparas, alojadas em confinamento nas instalações da University of Guelph, Canadá. Os animais foram blocados por data prevista de parto, balanceados pelo peso corporal inicial e distribuídos aleatoriamente em três tratamentos, destinados a ofertar 92% (LME, n = 16), 104% (CME, n = 13) ou 118% (HME, n = 13) das exigências previstas de EM 53 dias antes do parto. Os bezerros foram pesados ao nascimento, antes de consumir o colostro, e novamente aos 209 dias, na desmama. Aos 28 dias de idade, foram coletadas amostras de plasma e soro para análise do perfil metabólico, e aos 30 dias foi realizada biópsia do músculo Longissimus dorsi para análise de expressão gênica (mRNA) e abundância proteica relacionada ao metabolismo energético. As análises estatísticas foram realizadas no SAS Studio, por meio de modelo misto incluindo os efeitos fixos de tratamento e paridade, e o efeito aleatório do touro. Não foram observadas diferenças entre tratamentos para peso ao nascimento, peso à desmama ou perfil metabólico sanguíneo. No entanto, a expressão de mRNA de MYH1 foi menor (P = 0,02) nos bezerros dos grupos HME e LME em comparação ao CME, enquanto MYH7 tendeu a ser maior (P = 0,07) nos bezerros do grupo LME em relação ao CME. A expressão de MYH2a (P = 0,04) e MYH2x (P = 0,01) foi maior nos bezerros do grupo LME em comparação ao grupo HME. Os bezerros do grupo LME também apresentaram maior expressão de PPARα (P = 0,04), PPARGC1α (P = 0,04) e MEF2A (P = 0,01), e maior atividade de AMPK (P = 0,01) em comparação aos grupos CME e HME. Por outro lado, a atividade de Akt foi maior nos grupos HME e LME em relação ao CME (P = 0,01). Esses resultados indicam que o músculo esquelético de bezerros nascidos de vacas que receberam 92% de suas exigências energéticas apresentaram maior expressão de genes relacionados a oxidação de ácidos graxos, biogênese mitocondrial e desenvolvimento muscular, características que podem alterar a sua flexibilidade metabólica. |