| Resumo |
A alfabetização científica (AC) é essencial para formar cidadãos críticos e conscientes, especialmente diante dos desafios ambientais e tecnológicos atuais. Desde os anos 1950, Paul Hurd já apontava sua importância para a vida em sociedade. Posteriormente, o movimento Ciência, Tecnologia e Sociedade (CTS), com autores como Thomas Kuhn e Rachel Carson, defendeu uma ciência mais acessível e socialmente responsável. Apesar do reconhecimento oficial da AC em documentos como os Parâmetros Curriculares Nacionais (2002) e o Pacto Nacional pelo Fortalecimento do Ensino Médio (2014), sua implementação enfrenta obstáculos. Falta de infraestrutura nas escolas públicas, ausência de laboratórios e materiais adequados dificultam práticas investigativas. Soma-se a isso a formação limitada de professores nos anos iniciais, afetando sua segurança ao propor atividades investigativas. A cultura escolar, ainda centrada na memorização, também dificulta a valorização da ciência no cotidiano escolar. Autores como Chassot (2011) defendem a introdução precoce da AC, integrada a outras áreas. Saviani (2003) destaca a centralidade da ciência no currículo por sua capacidade de desenvolver pensamento crítico. No entanto, o ensino tradicional e descontextualizado desmotiva os estudantes, apesar de sua curiosidade natural. Pozo e Crespo (2009) propõem um ensino com base em perguntas reais e situações-problema, promovendo investigação e interdisciplinaridade. Nesse contexto, o projeto Universidade das Crianças da UFV (UC-UFV) surge como uma proposta concreta de enfrentamento dessas limitações. Inspirado na pedagogia freireana (Freire, 1996), o projeto valoriza a escuta ativa, o diálogo e o protagonismo infantil. Desenvolve oficinas temáticas a partir das perguntas das crianças, aproximando o conhecimento científico da realidade escolar. Além disso, promove visitas a museus e laboratórios da UFV, estimulando o sentimento de pertencimento ao ambiente universitário. A produção de vídeos, podcasts e materiais educativos, baseada na educomunicação (Soares, 2011), reconhece as crianças como produtoras de conhecimento. Com abordagem interdisciplinar e participação de estudantes da UFV, docentes e parceiros externos, o projeto também atua na formação de professores e licenciandos. Ao integrar ensino, pesquisa e extensão, a UC-UFV promove uma alfabetização científica crítica, democrática e transformadora desde a infância. |