| Resumo |
As políticas patrimoniais no Brasil tiveram, por décadas, como referência principal narrativas eurocêntricas. Com a Constituição de 1988, amplia-se a noção de patrimônio, incorporando a diversidade cultural e permitindo o reconhecimento de bens afro-brasileiros e indígenas. Ainda assim, persistem assimetrias na representação dessas memórias no espaço público e escolar. Este trabalho tem como objetivo produzir e avaliar materiais didáticos que dialoguem com patrimônios, histórias e memórias afro-brasileiras, a partir da parceria entre pesquisadores e o mestre Pedro Antônio da Gama Catarino, da comunidade quilombola urbana do bairro de Fátima (Ponte Nova/MG). A proposta integra o projeto “Passados Presentes: patrimônios e memórias negras e afro-indígenas em Minas Gerais”, financiado pelo CNPq (Chamada nº 40/2022 – Linha 5B), coordenado por Hebe Mattos, parte da rede Passados Presentes: Memória da Escravidão no Brasil (LABHOI-UFJF-UFF), em articulação com o Grupo de Trabalho Emancipações e Pós-Abolição de Minas Gerais (GTEP- MG) e instituições parceiras. A metodologia adotada fundamenta-se no diálogo epistemológico entre saberes tradicionais e acadêmicos, por meio de entrevistas de história oral (PORTELLI, 1997), pesquisa nominativa inspirada na micro-história (CHALHOUB, 2003), autoetnografia, construção colaborativa de narrativas públicas e uso de mídias audiovisuais. Também se incorpora a abordagem da educação patrimonial crítica (GRUNBERG, 2006) e os debates sobre patrimônio imaterial afro-brasileiro como instrumento de luta por reconhecimento (MATTOS; ABREU; GURAN, 2014). Entre os resultados alcançados, destaca-se a produção de um livro paradidático de autoria do mestre Pedro Antônio da Gama Catarino, voltado ao Ensino Fundamental, cuja narrativa valoriza as memórias da comunidade quilombola do bairro de Fátima e estabelece conexões com outras experiências negras em Minas Gerais. Esse material será disponibilizado de maneira livre, em versão digital, maximizando o acesso à obra, além de correlação com um mapeamento georreferenciado dos lugares de memória da comunidade, com registro audiovisual e curadoria colaborativa. Além disso, foi implementada uma ação formativa voltada ao corpo docente de uma das escolas quilombolas da comunidade, com foco na educação para as relações étnico-raciais e no uso crítico dos materiais produzidos. A avaliação das iniciativas tem sido realizada por meio de instrumentos aplicados aos professores, análise da recepção em redes sociais, monitoramento de acessos nas plataformas digitais e escutas junto à comunidade, com apoio da Associação Quilombola e do Grupo Afro Ganga Zumba. Ao integrar saberes tradicionais ao campo do ensino de História, o trabalho reafirma o compromisso com uma prática pedagógica antirracista, enraizada no reconhecimento das vozes historicamente silenciadas e na valorização de epistemologias outras como fundamento para políticas públicas educacionais, patrimoniais e culturais mais inclusivas. |