| Resumo |
A poluição ambiental por matéria orgânica proveniente de atividades industriais é uma das maiores preocupações globais atualmente. Indústrias de laticínios descartam grandes volumes de efluentes, cujos resíduos, se não tratados adequadamente, podem causar sérios danos ambientais. Estima-se que, a cada tonelada de leite industrializado, seja gerado 1 m3 de efluente. Diante dessa preocupação, os fungos desempenham um papel crucial na decomposição de matéria orgânica, principalmente por meio da produção de enzimas extracelulares capazes de degradar diversos substratos, contribuindo para a reciclagem, a mitigação dos impactos ambientais e o fortalecimento da bioeconomia circular. Entre essas enzimas, destacam-se as lipases fúngicas, devido ao seu grande potencial e aplicações industriais, como na produção de alimentos, detergentes enzimáticos, biodiesel, entre outras. Este trabalho teve como objetivo avaliar a atividade lipolítica de fungos formadores de cogumelos utilizando, como substrato, resíduos de gordura oriundos de efluentes de um laticínio. No dia 25 de abril de 2024, foram coletados resíduos da caixa de gordura da estação de tratamento de efluentes do “Laticínio Escola – Produtos Viçosa”, vinculado à Fundação Arthur Bernardes (FUNARBE), em Viçosa, MG, Brasil. Uma parte do resíduo foi aquecida a 100 °C e, em seguida, centrifugada a 5.000 rpm por 5 minutos. A fração de gordura separada, localizada na parte superior do tubo, foi coletada e armazenada a -20 °C, protegida da luz, sendo posteriormente utilizada na preparação do meio de cultura. Três fungos formadores de cogumelos pertencentes à coleção do Laboratório de Associações Micorrízicas (LAMIC) da Universidade Federal de Viçosa (UFV), Trametes sp. J2, Phanerochaete chrysosporium PC e Pycnoporus sanguineus PYC01, foram ativados e reativados em ágar batata dextrose (BDA), a 25 °C por 5 dias. Discos de 5 mm de diâmetro dos fungos reativados foram inoculados em meio mineral mínimo (MMM), contendo 0,2% (v/v) da gordura separada e 1,2% (m/v) de ágar, sendo incubados em condições aeróbicas por 10 dias a 25 e 30 °C, separadamente. O diâmetro dos halos de hidrólise da gordura foram medidos com régua milimetrada após 5 e 10 dias de incubação. Os experimentos foram realizados em duplicata. Todos os fungos apresentaram atividade lipolítica a 25 e 30 °C, sendo que Trametes sp. J2 apresentou halos de hidrólise com diâmetros de 56 e 85 mm, P. chrysosporium PC de 36 e 82 mm e P. sanguineus PYC01 de 62 e 78 mm, respectivamente. Este experimento evidencia o potencial desses fungos formadores de cogumelos na bioconversão de resíduos de gordura de laticínios em enzimas extracelulares com atividade lipolítica, as quais podem ser aplicadas em diferentes setores industriais, como na formulação de detergentes enzimáticos. Dessa forma, é possível gerar uma bioeconomia circular e sustentável na indústria de laticínios. |