| Resumo |
O presente estudo objetivou conhecer as concepções, pensamentos, significados, sentimentos e intenções em relação ao empoderamento feminino, soberania e segurança alimentar e nutricional de mulheres funcionárias envolvidas no processo de aquisição e preparo das refeições em creches filantrópicas da cidade de Viçosa-MG. Trata-se de um estudo de abordagem qualitativa, cujas informações foram analisadas com base no raciocínio que guiou as ações das participantes em prol de prover alimentação às crianças atendidas. Adotou-se a técnica da entrevista como forma de comunicação e de interação. Foram entrevistadas seis mulheres trabalhadoras, com idade entre 26 e 58 anos, de três creches filantrópicas. A análise se baseou nas partições selecionadas de respostas modais e em termos de atributos, buscou-se os definidores, referindo-se aos conteúdos e argumentos mais mencionados e em quais contextos apareceram. Para situar o raciocínio que orientou as ações da funcionária, os conceitos de prática/realização, reflexividade, relatabilidade, indicialidade e de noção de membro referenciados por Guesser foram ponderados. Igualmente, as orientações previstas no Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) fundamentaram outras questões trazidas por elas. Constatou-se que o empoderamento feminino se configura como um importante aliado no agir das entrevistadas, colocando-as mais próximas ao protagonismo de suas vidas e na busca do aperfeiçoamento do trabalho visando a melhoria das refeições servidas às crianças. Porém, existem padrões enraizados do patriarcado que ainda limitam ou inibem o alcance dos potenciais individuais e coletivos. A soberania alimentar foi restringida ao “direito à escolha do que comer” e as especificidades em torno do termo são desconhecidas ou pouco exploradas. A Segurança Alimentar e Nutricional foi relacionada ao acesso e consumo adequado dos nutrientes através de uma boa alimentação e dos cuidados higiênicos sanitários necessários ao manuseio e preparo dos alimentos. Sobre a interrupção das atividades das creches, como ocorreu na pandemia de COVID-19, as falas retrataram tristeza, insegurança, impotência e a preocupação delas em relação às crianças. Quanto aos ajustes que se traduzem em atividades práticas racionais para responder à vulnerabilidade social de crianças que dependem, diariamente, das refeições servidas nestas creches, a racionalidade com base na noção de membro e na reflexividade prevaleceu nos argumentos e nas ações. A enunciação que emerge dessas vozes possibilitou uma melhor compreensão de como estas funcionárias lidam com a questão da insegurança alimentar e de como este processo interfere na alimentação servida às crianças. Concluiu-se que a integração entre creches filantrópicas e a prefeitura precisa ser aprimorada para que se possa prover a segurança alimentar e nutricional das crianças, sem perder de vista os pilares da soberania alimentar que envolve outras gestões e atores sociais como coparceiros. |