| Resumo |
A Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei nº 12.305/2010) estabelece que os rejeitos, após esgotadas as possibilidades de reaproveitamento, devem ter destinação final ambientalmente adequada, como aterros sanitários. Esses locais, mesmo os mais adequados, emitem metano (CH₄), gás de efeito estufa resultante da decomposição anaeróbia da matéria orgânica, com elevado potencial de aquecimento global, contribuindo significativamente para as mudanças climáticas. Foi utilizado como estudo de caso o aterro sanitário localizado em Viçosa-MG, monitorando-se o metano emitido (top-down) por meio do instrumento TROPOspheric Monitoring Instrument (TROPOMI), presente no satélite Sentinel-5 Precursor, e comparando-o com valores estimados por inventários (bottom-up). O objetivo deste estudo é quantificar e comparar os valores de metano emitido pelo aterro sanitário da cidade de Viçosa identificados pelos métodos bottom-up e top-down. Foi utilizado o método IMI (Integrated Methane Inversion), que combina observações atmosféricas do satélite S5P-TROPOMI e de estações terrestres com modelos atmosféricos e inventários de emissões (bottom-up), permitindo obter estimativas aprimoradas das emissões de metano. A abordagem aplica técnicas estatísticas de inversão para identificar e quantificar fontes específicas, como aterros sanitários. Os resultados obtidos para o ano de 2023 indicaram uma expressiva diferença nas estimativas de emissões de metano provenientes de aterros sanitários. Devido ao uso do TROPOMI, foi viável realizar um monitoramento espacialmente mais preciso, abrangente e contínuo, com seus valores derivados da inversão atmosférica (top-down, 1.292 toneladas) sendo quase o dobro dos estimados por inventários tradicionais (bottom-up, 667 toneladas). Essa discrepância decorre principalmente das limitações dos métodos bottom-up, que desconsideram variações reais nas condições operacionais e ambientais locais, como ineficiências em sistemas de captação e heterogeneidade dos processos microbiológicos, implicando relevantemente no meio ambiente e no clima, já que as emissões reais de metano (1.292 t) correspondem a aproximadamente 36.176 toneladas de CO₂-equivalente (considerando um potencial de aquecimento global 28 vezes maior que o CO₂ em 100 anos), intensificando a contribuição dos aterros para o efeito estufa e reforçando a necessidade de estratégias mais robustas de mitigação. Este estudo apresenta uma abordagem alternativa ao uso de inventários para medição de emissões de metano em aterros sanitários, de modo a quantificar valores de metano emitido que se aproximem dos reais atmosféricos, por meio do satélite S5P-TROPOMI. Dessa forma, foi possível demonstrar que os valores utilizados para estimar a participação dos aterros sanitários na emissão de gases de efeito estufa globais podem estar subestimados, reforçando a necessidade de melhorias operacionais e de ações efetivas de mitigação nas etapas finais da gestão de resíduos. |