| Resumo |
A nutrição materna durante a gestação desempenha papel fundamental na programação fetal, com efeitos diretos sobre o crescimento e o metabolismo da progênie. O ácido guanidinoacético (GAA), precursor da creatina e também um agente poupador de arginina, tem potencial para otimizar o desenvolvimento muscular, embora sua aplicação na fase de cria ainda seja pouco explorada. Este estudo teve como objetivo avaliar os efeitos da suplementação materna com GAA durante o terço final da gestação sobre o crescimento muscular esquelético e a adipogênese em bezerros de corte. Foram utilizadas 24 vacas prenhes da raça Brahman (532 ± 15,1 kg), prenhas de bezerros machos (n = 12) ou fêmeas (n = 12), submetidas a protocolo de inseminação artificial em tempo fixo com uso de um mesmo touro, resultando em quatro grupos gestacionais. Do dia 180 ao 270 de gestação, as vacas receberam uma dieta basal composta por 688 g/kg de silagem de milho, 147 g/kg de bagaço de cana, 47,7 g/kg de milho moído, 89,6 g/kg de farelo de soja, 6,86 g/kg de ureia e 21,2 g/kg de mistura mineral (matéria seca), suplementadas ou não com 0,2% de GAA. Os pares vaca-bezerro foram mantidos em um único lote até a desmama (210 dias). Aos 45 dias de idade, foram realizadas biópsias do músculo Longissimus lumborum para análise de expressão gênica (mRNA) e abundância proteica. As análises estatísticas foram conduzidas no SAS Studio, por meio de modelo misto que incluiu os efeitos fixos de tratamento e sexo da progênie, e o efeito aleatório do grupo gestacional. Bezerros oriundos de vacas suplementadas com GAA apresentaram maiores razões p-Akt/Akt (P = 0,03) e p-mTOR/mTOR (P = 0,004), indicando maior ativação das vias de síntese proteica. Observou-se interação tratamento × sexo para ambos os marcadores (P = 0,02), com maiores níveis de p-Akt/Akt em machos GAA e p-mTOR/mTOR em fêmeas GAA. A expressão de mRNA de MYOD1 foi maior nos bezerros GAA (P = 0,01), enquanto MYOG não diferiu entre grupos (P = 0,14), sugerindo prolongamento da fase proliferativa miogênica. Os níveis proteicos de PAX7 tenderam a ser maiores nos bezerros GAA (P = 0,07), sendo que PAX3 foi reduzido (P = 0,009), indicando possíveis alterações na dinâmica das células satélites musculares. Não foram observadas diferenças significativas para os marcadores adipogênicos como DLK1 (P = 0,10), PPARγ (P = 0,10) e PDGFRα (P = 0,29). Conclui-se que a suplementação materna com GAA no terço final da gestação promoveu estímulo ao desenvolvimento muscular da progênie, potencialmente via ativação das vias Akt/mTOR e regulação miogênica, sem impactar a adipogênese intramuscular. |