| Resumo |
Este trabalho apresenta os resultados de uma pesquisa de mestrado em Educação, cujo objetivo foi analisar a organização do trabalho pedagógico em torno do Projeto de Estudo Temático (PET), desenvolvido por docentes e discentes da Licenciatura em Educação do Campo – Ciências da Natureza (Licena), na UFV. O PET, estratégia pedagógica oriunda das Escolas Famílias Agrícolas, ao ser adaptado ao Ensino Superior, busca possibilitar aos estudantes uma compreensão crítica de suas realidades e, aos docentes, o conhecimento dos territórios de seus discentes, favorecendo um ensino contextualizado. O trabalho com o PET iniciou-se em 2018 e se estendeu até 2024, sendo acompanhado por esta pesquisa, que utilizou a Sistematização de Experiências como referencial teórico-metodológico, valorizando a produção coletiva do conhecimento a partir das vivências individuais dos colaboradores. Os dados do Eixo 1 (2018) apontaram potencialidades, desafios e lacunas do PET, conduzindo ao Eixo 2, no qual se desvelaram contribuições da estratégia para a formação docente. Esses resultados suscitaram inquietações sobre a organização do trabalho pedagógico, especialmente quanto ao uso dos roteiros respondidos pelos estudantes e à articulação entre realidade e conteúdos acadêmicos, o que levou à abertura do Eixo 3. Nesse eixo, fundamentamo-nos nas raízes teóricas da Educação do Campo, como a Pedagogia do Oprimido, a Pedagogia Soviética e a Pedagogia do Movimento. O trabalho de campo permitiu reconhecer também a Pedagogia Histórico-Crítica e a Agroecologia como fundamentos da Educação do Campo, por valorizarem os saberes populares articulados aos conhecimentos clássicos, em consonância com a Educação Popular. O Eixo 3 apresenta o trabalho pedagógico na Licena em torno do PET, destacando a construção de Temas Geradores, que permitem aos estudantes identificar situações-problema de seus territórios. A partir da investigação temática, da problematização e do aporte teórico, os discentes tornam-se capazes de retornar às comunidades com propostas de intervenção que visam melhorar a qualidade de vida local. A pesquisa evidenciou a força do PET na produção coletiva do conhecimento e na valorização dos saberes tradicionais dos estudantes. Estes, ao articular saberes populares e científicos, tornam-se educadores emancipados, críticos e autônomos, reconhecendo-se, e reconhecendo seus discentes, como produtores de conhecimento, e não como meros objetos. |