| Resumo |
Esta dissertação investiga criticamente os impactos do Processo de Bolonha e do Programa Erasmus na internacionalização do ensino superior, com foco nas desigualdades que estruturam os fluxos acadêmicos globais e na posição periférica ocupada pelo Brasil nesse contexto. A pesquisa é desenvolvida no PPGE em educação, com apoio de bolsa do CNPq e se insere no campo das políticas públicas educacionais e busca compreender de que forma a mobilidade estudantil internacional tem sido promovida – ou restringida – a partir de iniciativas institucionais e governamentais. Partindo dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030, especialmente o ODS 4 (educação de qualidade) e o ODS 10 (redução das desigualdades), a dissertação propõe uma reflexão crítica sobre as limitações dos programas brasileiros de mobilidade, como o Ciência sem Fronteiras, que apesar de sua ambição, não conseguiram democratizar o acesso à internacionalização, mantendo barreiras socioeconômicas, regionais e curriculares. A partir de uma abordagem qualitativa e crítica, com base em análise bibliográfica e documental, a pesquisa examina documentos oficiais da União Europeia (como a Declaração de Bolonha, a de Sorbonne e os Comunicados de Praga, Berlim e Bergen) e literatura acadêmica nacional e internacional sobre o tema. A análise está orientada pela filologia gramsciana, método que permite compreender os documentos em sua historicidade e em suas conexões com interesses hegemônicos, revelando como o modelo europeu de mobilidade acadêmica responde a uma racionalidade neoliberal, que transforma a educação superior em instrumento de competitividade global. A fundamentação teórica mobiliza autores como Gramsci, Bourdieu, Boaventura de Sousa Santos, Susan Robertson, entre outros, discutindo conceitos como geopolítica do conhecimento, justiça cognitiva, internacionalização ativa e passiva, e novas mobilidades. Tais referenciais possibilitam compreender a mobilidade não apenas como deslocamento físico de estudantes, mas como um fenômeno atravessado por disputas simbólicas, epistêmicas e políticas. Os resultados parciais evidenciam que os países do Norte Global concentram o capital acadêmico e científico, enquanto países do Sul Global, como o Brasil, continuam majoritariamente como emissores de estudantes, com baixa capacidade de atração internacional. Diante desse cenário, a dissertação propõe a construção de políticas públicas inclusivas, sustentáveis e comprometidas com a cooperação regional e Sul-Sul, de modo a ressignificar a internacionalização do ensino superior a partir de uma perspectiva crítica, democrática e orientada pela justiça social e cognitiva. |