| Resumo |
Introdução: A doença renal crônica (DRC) é uma enfermidade frequente em felinos, caracterizada por progressão lenta e irreversível. A ultrassonografia modo B é amplamente utilizada na avaliação morfológica renal, e sua associação ao modo Doppler permite análise da perfusão renal em tempo real. Os índices de resistividade (IR) e de pulsatilidade (IP), obtidos pelo Doppler, têm sido estudados pelo seu potencial diagnóstico e prognóstico em afecções renais e cardiovasculares, mas ainda são pouco usados na rotina clínica. Objetivos: Relatar a aplicação clínica dos índices IR e IP no acompanhamento de um felino com DRC descompensado e cardiopatia, correlacionando os valores obtidos com os parâmetros clínicos, laboratoriais e ultrassonográficos durante a internação e os retornos ambulatoriais. Metodologia: Realizou-se acompanhamento ultrassonográfico diário por 11 dias consecutivos de internação, com exames adicionais nos dias 29, 36 e 84 após a alta. Os exames incluíram avaliação em modo B e modo Doppler renal, com obtenção padronizada dos índices IR e IP de artérias intrarrenais, realizados pelo mesmo operador. Os valores foram comparados com os achados clínicos, laboratoriais (ureia, creatinina [CR], hematócrito, potássio) e pressão arterial sistólica (PAS). Resultados: Foi observada redução progressiva dos índices IR e IP com a estabilização clínica do paciente, ainda antes da normalização dos exames laboratoriais ou de alterações significativas nas imagens em modo B. No dia 1 os valores de IR foram 0,94 para o rim esquerdo (RE) e 0,92 para o rim direito (RD), com ausência parcial de fluxo diastólico, tendo valores de 3,37 de CR e 90 de PAS. IP foram obtidos a partir do dia 4 com a restauração do fluxo diastólico: 5,95 (RE) e 8,40 (RD), 4,03 para CR e 90 de PAS. No dia 9, os valores de IR atingiram níveis considerados normais: 0,66 (RE) e 0,65 (RD) e 140 de PAS, coincidindo com a recuperação da volemia, normotensão e ausência de sinais de desidratação. Na mesma data, valores de IP, embora ainda elevados em relação à referência (1,29), mostraram queda expressiva: 2,24 (RE) e 2,05 (RD), quando valores de pressão sistólica. Na última avaliação (dia 84), os índices voltaram a se elevar com IR: 0,81 (RD) e 0,86 (RE) e IP de 1,52 (RD) e 1,85 (RE) e 1,90 de CR, acompanhando nova piora clínica, mesmo com exames laboratoriais relativamente estáveis. Conclusão: Os índices IR e IP mostraram-se sensíveis às alterações hemodinâmicas do paciente, o primeiro de forma mais intensa. A monitoração seriada com Doppler demonstrou utilidade superior à ultrassonografia modo B e aos exames laboratoriais isolados em determinados momentos do acompanhamento. IR e IP mostraram potencial como marcadores precoces de resposta ao tratamento e de episódios de descompensação aguda da DRC. Este relato reforça a aplicabilidade dos índices Doppler como ferramentas complementares no monitoramento clínico de felinos nefropatas, notadamente com potencial valor prognóstico. |