| Resumo |
Livros científicos vs livros sagrados, assim inicia-se a discussão no corpus desta pesquisa. Dessa forma, a partir do escopo do discurso polêmico, o projeto visou analisar o material do prolífico teólogo calvinista do séc. XIX, Alexander Whyte, em sua obra Personagens Bíblicos – Antigo Testamento (PB). Esta pesquisa teve como objetivo central analisar discursivamente a(s) função(ões) da polêmica em PB. Em consequência, três questões se apresentam como relevantes: i) o uso da imaginação; ii) como (i) afeta na organização discursiva das “biografias” em PB?; e iii) juízos de valores e posicionamentos polêmicos em PB. Utilizou-se como aporte teórico-metodológico a Teoria da Análise Semiolinguística do Discurso de Patrick Charaudeau (1983), a partir de leitura e varredura do corpus, junto a revisão de literatura que expandiu o conhecimento sobre as categorias da Teoria Semiolinguística. Após isso, procedeu-se à descrição e análise semiolinguística do corpus, evidenciando: a estrutura do gênero biografia situacionalmente (cf CHARAUDEAU, 2004), a estrutura da argumentação (cf. CHARAUDEAU, 2008) e as funções da polêmica (cf AMOSSY, 2017). Em consequência, utilizando as noções de gêneros bakhtiniano (BAKHTIN, 2006), PB não cumpre o papel de gênero discursivo ao qual é vendido – biografias – sendo um híbrido de sermão com gêneros da retórica clássica. Whyte recorre a estratégias retóricas com ênfase no pathos (ARISTÓTELES, 2021), mobilizando o emocional de sua plateia com o objetivo de persuadir a partir do domínio do Ético – bem/mal (CHARAUDEAU, 2008). Nesse sentido, foram selecionados no corpus os casais pioneiros da historiografia bíblica, revelando uma constante interessante no discurso: um elo artificial, transgeracional e diacrônico que se chamou de Parentalidade Universal (PU). Ao invés de cumprir o papel biográfico proposto, o autor utiliza as personagens como suporte para a exaltação/condenação de certo comportamento. Valendo-se dos três gêneros retóricos, há uma constante discursiva em cada capítulo: inicia-se com um elogio às virtudes (epidítico), apresenta-se a personagem e faz-se o julgamento moral (legislativo) via domínio do Ético, encerrando com deliberações ao público sobre como (não) ser/agir. Whyte atribui máximas às personagens, chamando-as de pai/mãe de certa virtude ou vício – com virtudes majoritariamente aos patriarcas e vícios às matriarcas. A PU opera no subtexto do discurso: tramando um tecido geracional bíblico entre personagens e ouvintes/leitores do séc. XIX. Com isso, além de transgredir o gênero biografia, Whyte transmite uma mensagem de cunho ideológico. A polêmica surge tanto na representação das personagens (uso da imaginação), quanto na influência religiosa/política/moral criada por ele sobre o emocional da plateia do século XIX e os possíveis reflexos no século XXI. Essa parentalidade divina criada no púlpito de papel do autor pode servir como combustível ao fascismo e neoconservadorismo religioso da última década. |