| Resumo |
O Brasil tem o quarto maior rebanho de cavalos do mundo, superando 5 milhões de cabeças, destacando-se também pela diversidade genética de populações adaptadas a diferentes biomas. No estado de Roraima, o cerrado conhecido como Lavrado cobre aproximadamente 45% do território do estado. Neste bioma se encontra o cavalo lavradeiro, uma raça local não oficializada, reconhecida por sua rusticidade, resistência e adaptação às condições adversas da região. Estes animais são considerados descendentes diretos de equinos introduzidos pelos colonizadores no século XVIII e formam populações geneticamente únicas, hoje ameaçadas pela redução de áreas nativas e crescente mestiçagem. Recentemente, áreas que pertenciam a antigas fazendas foram demarcadas como territórios indígenas, e as populações originárias deram continuidade às atividades desenvolvidas no local, utilizando esses animais tanto na lida quanto no deslocamento. Assim, esses animais permanecem integrados à cultura local. Pela sua rusticidade, além do relevante papel econômico, os cavalos lavradeiros também são marcadores da circulação de vírus de potencial impacto para sanidade animal e também saúde humana. Entre esses vírus, circulam no Brasil os arbovírus Orthoflavivirus ilheusense (ILHV), Orthoflavivirus nilense (WNV) e Orthoflavivirus louisense (SLEV). O presente trabalho teve como objetivo investigar a exposição de 109 cavalos lavradeiros a ILHV, WNV e SLEV. Os animais não tinham histórico vacinal para encefalites equinas ou deslocamento para outras regiões do país. O ensaio sorológico foi realizado por teste de neutralização por redução de placas (PRNT90). Resultados preliminares indicam que 17 (15,59%) animais apresentaram anticorpos neutralizantes para ILHV, quatro (3,67%) para WNV — sendo três delas também positivas para ILHV — e 28 (25,68%) para SLEV, com sobreposição parcial dos resultados entre os dois últimos vírus (32,14%). Todas as amostras suspeitas serão submetidas a um novo PRNT90 para confirmar os resultados. O monitoramento sorológico para exposição a arbovírus do cavalo lavradeiro é um auxílio valioso para vigilância ativa de arbovírus de importância médica e veterinária no país e busca contribuir para a preservação desta raça local em risco de extinção e de grande importância cultural e econômica, principalmente em territórios indígenas e povos originários no estado de Roraima. |