| Resumo |
O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é um transtorno do neurodesenvolvimento, cujo diagnóstico é fundamentado nos critérios estabelecidos pelo Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5). Entre os principais parâmetros diagnósticos, para este estudo destaca-se os déficits comportamentais. Além disso, a Altas Habilidade e Superdotação (AH/SD) refere-se a habilidades e comportamentos que ocorrem com frequência e estão acima da média da população. O objetivo deste relato de experiência foi analisar os progressos comportamentais de um aluno de 8 anos com diagnóstico de TEA e suspeita de AH/SD, participante de intervenções motoras norteadas pela modalidade de Jogos e Brincadeiras planejadas, desenvolvidas no contexto do Laboratório de Estudos em Práticas Corporais Inclusivas (LEP) da Universidade Federal de Viçosa (UFV). As intervenções ocorreram semanalmente, por sete meses e vinte e seis dias, totalizando 36 sessões, cada uma composta por quatro atividades principais. A análise considerou relatórios de evolução, observações sistemáticas do professor, diálogo constante com a família e anamnese detalhada do aluno. Nas primeiras intervenções, o aluno apresentava dificuldades relacionadas à atenção, concentração, resistência a mudanças de tarefas, inibição de comportamentos impulsivos, dificuldade para ignorar elementos distratores do ambiente, baixa tolerância a frustrações e dificuldade em tarefas que envolviam trocas turnos. Para trabalhar estes comportamentos, foram empregadas estratégias baseadas na previsibilidade, rotina, uso de combinados (regras), aplicação de reforços positivos e negativos, organização do ambiente com redução de estímulos distratores, demonstrações práticas e comunicação alternativa, como intervenções conduzidas sem comandos verbais diretos. Como resultados, observou-se melhora na atenção, controle inibitório, diminuição de respostas impulsivas do aluno e na habilidade de aguardar turnos durante as atividades propostas. Ele passou a ouvir e compreender melhor as instruções, seguir orientações com mais consistência, aceitar mudanças de tarefas com menor resistência e demonstrar maior engajamento e participação ativa nos jogos. Dentre as estratégias utilizadas, destacaram-se como mais eficazes os combinados, a constância na aplicação da rotina, o reforçamento de comportamentos adequados e o uso de comunicação não verbal. Conclui-se que estas intervenções estruturadas baseadas no “brincar”, mediadas com intencionalidade e aplicadas de maneira constante, contribuíram de forma significativa para o desenvolvimento comportamental do aluno, fortalecendo aspectos como autocontrole, organização, aceitação e melhor entendimento de regras sociais e engajamento, evidenciando a relevância da atuação planejada do profissional de Educação Física no processo do desenvolvimento integral de crianças com TEA. |